‘Big Brother’: parece que só no Brasil a esquerda morde a iscarmadilha da Globo capitalista e golpista…

O ‘Big Brother’ (produto-entretenimento superficial e importado com marketing, propaganda, clichês e diálogos e cenas manipulados em que subcelebridades egoístas e malévolas se devoram para ganhar dinheiro) faz sucesso no mundo todo, mas não sei se a esquerda dos respectivos países morde a isca tão fácil assim como a esquerda brasileira, partidos, movimentos sociais, que se envolvem a tal ponto no ibope lucrativo, mordem a isca do marketing de identitarismo da Globo capitalista, emissora hegemônica que defende diariamente as contrarreformas neoliberais e o mercado. Preferem ser aceitos, empregados, cooptados pelo capitalista branco e hetenormativo do que realmente destruir a estrutura capitalista! É degradante.
Basta dar uma olhada nas redes antissociais.
A esquerda brasileira (aqui, sim, igual à do resto do mundo em retaguarda pós-moderna), contaminada de identitarismo, de arrivismo, em falta de construção revolucionária e lutas de classes, morde a isca da Globo, porta-voz de banqueiros e elite econômica. A Globo – progressista e liberal nos costumes, mas conservadora na economia – “sacou” isso e se dá bem jogando com o identitarismo. Não é à toa que a extrema-direitalha à lá Bolsonaro (mas também no resto do mundo) acaba agregando e enganando setores populares da classe trabalhadora, que identificam a esquerda lato sensu com esse “lixo cultural” importado, transbordando ideologia pequeno-burguesa e individualismo. Precisamos de Arte (e o Brasil a tem de sobra), da criação de uma nova cultura crítica e popular, de Economia Política, de Filosofia da práxis, de jornalismo e debates públicos que conscientizem o que acontece no país, não disto, muito menos da Record charlatã, retrógrada e evangelofundamentalista.
7 de fevereiro de 2021

Os verdadeiros marxistas e comunistas e seus quatro principais adversários internos

PELEGOS, (NEO)STALINISTAS E APOLOGÉTICOS ACRÍTICOS DE CHINA E COREIA DO NORTE, IDENTITÁRIOS LIBERAIS, CÚPULAS ENRIJECIDAS E ELEITOREIRAS

“Na luta contra eles, a crítica não é uma paixão do cérebro, mas o cérebro da paixão. Não é o bisturi anatômico, mas uma arma. Seu objeto é o adversário, que não procura refutar, mas destruir. O espírito daquelas situações já foi refutado. Não são dignas de serem lembradas; devem ser desprezadas como existências proscritas. Não há necessidade da crítica esclarecer este objeto frente a si mesma, pois dele já não se ocupa. Esta crítica não se conduz como um fim em si, mas, simplesmente, como um meio. Seu sentimento essencial é a indignação; sua tarefa essencial, a denúncia.” – Marx, Crítica da Filosofia do Direito de Hegel.

“A dificuldade está agora no fato de que deve ser organizada uma nova
forma de resistência. Se tomamos, não o marxismo vulgar, mas o
verdadeiro marxismo, o marxismo de Marx, podemos encontrar lá
todos os elementos necessários para combater essas novas formas
de alienação.” – Georg Lukács, Conversando com Lukács, tradução de Giseh Vianna, Instituto Lukács, São Paulo, 2014, p. 68 (grifo meu).

É certo que o marxismo não é monolítico (e deve desmistificar e combater todo dogmatismo), muito menos em estratégias e táticas, nem mesmo o termo comunismo é monolítico; mas o marxismo em especial (e, sem ele, todo comunismo é frágil) possui algumas conquistas teórico-práticas bem assentadas e, até este momento, insuperáveis e irrefutáveis: a teoria do valor (a partir da qual se identifica a exploração do capitalismo), a dialética, a concepção materialista e a perspectiva revolucionária na compreensão das lutas de classes. (No Anti-Dühring, o “tripé” que abarca tais elementos é dividido em Economia Política, Filosofia e Socialismo.) É a partir deste legado, que se movimenta de acordo com as condições do presente e o acúmulo histórico, que se desenvolve a diversidade do marxismo e seus debates em torno de um objetivo muito claro, que é estudar e superar a sociedade capitalista e construir a sociedade comunista; mas não é sobre isto que trato aqui, e sim sobre pseudomarxismos e até pseudocomunismos na própria esquerda, que desprezam inconscientemente ou pisoteiam propositalmente ou até usurpam toda a teoria, degradando a prática.

Quem é marxista e comunista a vero, isto é, quem se senta para estudar a bibliografia revolucionária – a formativa e a contemporânea – e, com ela, sabe dos anseios históricos da população, mais profundos do que a limitada “política pública”, e que não quer ser militonto acrítico e/ou seguidor de falsários e carreiristas, enfrenta na luta política partidária interna terríveis obstáculos além dos nossos adversários diretos, a direitalha e os capitalistas. No momento, são estes os principais:

(1) Os pelegos. A velha peleguice de sempre. O “PelegodoB” (conforme dizem alguns camaradas), o sindicalismo do PT e outros. Mas, nos últimos meses, é talvez o PDT que tem representado mais explicitamente: Ciro Gomes (cujo livro novo rejeita o trabalhismo para enganar ou se deixar enganar por um charlatão feito o Mangabeira Unger, um mau reformista – como se vê, Harvard, de onde ele também pinçou a “Tábata Neoliberal” – alcunha de colegas, não minha -, formada pelo bilionário Instituto Lemann, que é sedento pela privatização da Educação e um think tank de cavalos de Tróia para a esquerda, parece ser o lugar preferido de Ciro Gomes), falastrão, fala sempre a favor dos trabalhadores e do “povo” (tentando emular o Brizola) diante das câmeras e do seu eleitorado de esquerda (vários deles, na verdade, playboys ou acadêmicos que pensam num desenvolvimentismo ultrapassado, diante da mutação toyotista do capital, que já mais nada desenvolve e cresce), enquanto, por trás, ele dá as mãos para o DEM e metade ou quase metade do partido vota com o terraplanista econômico, o ultraneoliberal Paulo Guedes, que já cada vez mais perde espaço no (des)governo Bolsonaro, um pilantra que, por sua vez, sacou como pode ser uma boa o voto de cabresto e as esmolas dos pelegos de esquerda… Pior é o PSB, que se diz “socialista” no nome, mas não o é na realidade, conforme podemos comprovar nas atitudes e votos do partido, sempre fechado com a direitalha em âmbitos estaduais e federal! O PT, que surgiu de importantes greves, vem do sindicalismo, não do marxismo, ou seja, da reivindicação por melhores condições de trabalho e salário. Portanto, tanto o informe de Marx que se desenvolverá em O Capital, “Salário, Preço e Lucro” (em que, em meio a greves por aumento de salários, ele propõe substituir o lema – segundo ele próprio – conservador “Um salário justo por uma jornada de trabalho justa!” pela divisa revolucionária “Abolição do sistema de trabalho assalariado!”), quanto o anti-sindicalismo de Lênin, são postos de escanteio. Com Marx morto, muitos “socialismos” falsários surgiram pelo mundo. (Lembrem-se do proto-nazista Spengler…). Já na velhice de Engels, que teve de escrever o AntiDühring, obra mestra que formou a primeira geração de marxistas, e em que ele elenca cronologicamente o trabalho assalariado junto a outras formas de opressão e exploração, como a vassalagem do sistema feudal, a escravidão, etc. O trabalho assalariado como forma moderna de exploração e de opressão não existe para a peleguice, portanto não há marxismo, esvaziaram a Economia Política e esvaziaram todo o marxismo; não se aprofundam numa superação do assalariamento para a elevação ontológica do ser social e dos trabalhadores (Lukács), nada fazem de concreto a respeito das lutas de classes. Pode parecer óbvio que seja assim em partidos de esquerda e de centro-esquerda, que primam por uma social-democracia cada vez mais vagabunda e impotente diante do capitalismo financeiro, que esmaga as forças produtivas, mas e quando trata-se de partido que leva comunista no nome e possui como símbolos a foice e o martelo (o governador Flávio Dino os queria retirar, mas os militantes do partido não deixaram)? É peleguice pura, pseudocomunismo, anti-marxismo; patifaria, canalhice, defasagem educacional, etc. Aliás, resta saber se a defasagem teórica é que gera a peleguice ou se é a peleguice interesseira e oportunista que gera a defasagem teórica, ou se ambas, dialeticamente… Ontem mesmo, um filiado do PelegodoB me disse que era “trabalhador de base”. Um bancário, um funcionário público se dizendo “trabalhador de base”! Defasagem educacional? O partido não ensina, e nem quer, porque precisa de sujeitos assim para se manter e manter o status quo. Um partido sério faria com que ele tivesse tempo para estudar o básico ou, se fosse um canalha, o expulsaria. Defende migalhas, esmolas. Um militonto do PCB outro dia também defendeu o simples assalariamento como “meta revolucionária” (para Marx, em seu informe, e para Engels, isto é conservadorismo), usando como exemplo a China! Entende-se por que não chegam na base – sem teoria, mal sabem o que é base. O trabalhador do setor de produção e os milhares de brasileiros da base da pirâmide social, levando este país nas costas diariamente na informalidade e no subemprego, somem diante de um bancário de classe média que se julga “trabalhador de base”, que diz que a Manuela d’Ávila (que nada sabe responder quando lhe perguntam sobre a ditadura do proletariado, que é apenas o oposto da ditadura da burguesia) é “linda e exemplo para as mulheres” (nada de Rosa Luxemburgo – não só com a crítica das armas, mas sobretudo, neste nosso momento, com a arma da crítica, pois os livros de Manuela são superficiais -, nada de Pagu Patrícia Galvão)…

(2) A nova geração do PCB, que começa nos idos de 2013 e 2015 (cuja representação mais óbvia é Jones Manoel, mas não só), com o esgotamento e o cansaço do importante núcleo duro do PCB anterior (por exemplo, na figura de um José Paulo Netto ou de Marcos del Roio, excelente intelectual gramcista), após décadas e décadas de decadência e crise ideológica, enfim, uma “nova linha” que hoje ilude filiados e mesmo não-filiados, nas redes antissociais (vários deles, dos dois grupos, chegam sempre até mim, por meus conteúdos, portanto tenho conhecimento de causa, além de ouvir fontes e ex-filiados): entre os superficiais, jovens carentes de líderes numa época sem lideranças, de capitalismo tardio e de vigilância, carreiristas, oportunistas, falsários, debilóides, pseudocomunistas e pseudomarxistas, uma verdadeira gangue de delinquentes “neostalinistas” revisionistas, ultra-idealistas em torno de um “mito” que nada nos diz respeito, extemporâneos, anacrônicos, e, no quesito do agora ou até como modelo a ser copiado (quem copia modelo é conservador, não revolucionário!), idólatras cegos, apologéticos das empresas da China (assim, como podemos ver, também eles, dizendo-se marxistas, pisoteiam o “Salário, Preço e Lucro” e a noção marxiana do trabalho assalariado enquanto exploração moderna) e do superaparato do Estado da Coréia do Norte. Notem que ataco menos esses dois países, e mais os apologéticos deles (um bom governo de esquerda precisaria se unir a eles contra o capital hegemônico, mas sem se arrastar às empresas da China ou aos mísseis e ao aparato militar da Coréia). Não pretendo, aqui, me aprofundar a respeito da Era Stálin, porque há ampla bibliografia a respeito a ser sopesada, dos dois lados, mas sem idolatria e fanatismo. Pretendo juntar, para seguidores e alunos, uma bibliografia marxista – o menos trotskista possível – contra Stálin. Criaram uma resposta automática a respeito do “neostalinismo”: que o termo não existe, etc., quando, na realidade, há bons textos sobre as suas origens. Ao olharem para trás, são “saudosistas” conservadores (lembrem-se do final do Manifesto Comunista, conclamando para olharmos para frente, isto é ser revolucionário), porque, tendo o tal “socialismo real” (para muitos, “capitalismo de Estado”) conquistado tantos valores concretos e, no geral, sido melhor do que o capitalismo, olha-se para frente, sob pena de comprometer o materialismo dialético; pior, idolatram um líder “muito cruel, muito rude” (palavras da própria filha e também de Lênin, 1 ano antes de morrer); defendem o Grande Expurgo (esses dias, expulsei um desses delinquentes de nosso grupo de estudos e de ação, porque disse que adoraria me “fuzilar”, “fuzilar um traidor” – ameaça que pode parecer infantil, mas grave, criminosa – imaginem se essa gangue conseguisse o poder); defendem uma burocracia tecnocrática contrarrevolucionária que perseguiu camaradas e revolucionários, mesmo da cultura de vanguarda, dizimou os conselhos dos Sovietes, Mandelstam, Pachukanis e centenas de outros, uma deturpação do marxismo (“socialismo em um só país”, ao invés da construção internacionalista de classe), etc. Se você crítica com vigor, é chamado de “trotskista” (não sou) e “fantoche do imperialismo”. Rasteirice pseudointelectual… O destino é o abismo, infelizmente; quadros mais sensíveis e mais cultos se afastam, desistem do estudo do marxismo, porque esses caras envenenam e contaminam tudo em seus submundos quase terraplanísticos… Esse revisionismo acrítico deságua numa defesa intransigente da China e/ou da Coréia do Norte, e também aqui esvazia-se tudo do marxismo: Gramsci (dupla de conceitos marxismo oriental / ocidental), a teoria do poder, a Economia Política, etc. para uma mera defesa apologética. Quanto à China e Coréia do Norte, as empresas chinesas e os mísseis norte-coreanos (nada contra um país soberano, erigido contra o gosto imperialista da Europa e dos EUA, se defender – o problema é que, esses dias, contaram-me que um desses juvenis, de nome Lucas Rubio, narrando a parada militar da Coréia, quase chorou, ou seja, o problema é depositar esperanças cegas nisso, com falta total de diplomacia, com espírito de tiete de torcida…), as empresas chinesas e os mísseis norte-coreanos estão pouco ligando para nós, revolucionários brasileiros e latino-americanos, mediante saber, ao invés dessa nojenta cretinice de militontos que, sem estofo teórico, ficarão perdidos quando essas formas entrarem em declínio e se transformarem, como tudo na vida: (A) O que a China e suas empresas e o que a Coréia do Norte e seu aparato militar farão diante de um processo revolucionário brasileiro e latino-americano? Como ajudarão? Quais serão suas condições? Lembrem-se que a União Soviética respeitou diplomaticamente as delimitações terríveis dos EUA nas ditaduras militares-empresariais que ajudaram a implantar em nosso continente. Lembrem-se que, quando Angola quis se emancipar pela via do socialismo, Cuba foi ajudá-la, não a União Soviética, que já havia deixado de ser uma superestrutura revolucionária há tempos… (B) O que faremos, extirpados os elementos do “Estado profundo” brasileiro, ou seja, aquele que sempre se mantém, na ditadura, na redemocratização, com Collor, FHC, Dilma, Lula, Bolsonaro, e extirpados capitalistas brasileiros importantes, ou seja, o que faremos quando tomarmos gradativamente o poder diante de uma nova diplomacia perante China e Coréia do Norte com nosso novo Estado? É isto o que deve ser debatido, escrito, estudado, planejado, ensinado! Todo o resto é lobotomização… Há uma renca de novinhos manipulados, lobotomizados nessas duas ondas supracitadas, enganados por “youtubers” que só buscam “likes”, rentabilidade, fama, holofote, e que são indigentes em marxismo. Nada ensinam sobre Florestan Fernandes, Caio Prado Júnior e outros para a construção do socialismo brasileiro. Perda de energia, de tempo e de geração. Isso precisará ser impedido desde já. Tenho me empenhado, dentro das minhas limitações, a acordar incautos para estudarem a sério a teoria e desenvolverem uma prática muito mais madura.

Ps.: Mandei este presente texto em grupos de socialistas e comunistas, filiados em partidos ou não, militantes de movimentos sociais ou não. Recebi apoio, mas fui excluído de um deles, que passa dos 200 membros. Neste, que possui como membros até seguidores meus e também “neostalinistas” e pelegos com quem confrontei, recebi – mesmo expulso, através de camaradas – respostas muito frutíferas. Por exemplo, o criador, defensor explícito de Stálin, disse que este meu texto está corretíssimo em termos do que ele chama de “marxismo clássico”, e condena o meu “anti-stalinismo”. Diante de divergências e intensa discussão que meu texto provocou entre eles, este mesmo criador logo revela o caráter do pseudomarxismo “neostalinista”: “Aqui se passa a ‘mão na cabeça’ do período com Stálin”, escreveu ele. Depois: “1) Aqui se defende Stálin. 2) Aqui que se considera o período de Stálin ou Mao como períodos autoritários. 3) Se defende autoritarismo.” (Um aluno meu levantou a dúvida se não se trata de um “direitista” infiltrado, um “quinta-coluna”, pois defender autoritarismo assim, tão explicitamente?, mas não deve estar sozinho nessa mentalidade…) Nada a ver com ditadura do proletariado, que sempre significou uma contraposição à democracia farsante da ditadura do capital e da burguesa; trata-se da defesa do autoritarismo e da burocracia contrarrevolucionária. Ao defender isso e admitir minha coerência teórico-prática, apenas comprovam este meu alerta…

(3) Os “identitários” puros e pós-modernos (o pós-modernismo abandonou a centralidade da categoria Trabalho e a compreensão das lutas de classes, que unem a todos pela emancipação), ou seja, arrivistas ingênuos ou conformados que, sendo ou sentindo-se excluídos e diversos do modelo majoritário dominante, em busca de melhores condições subjetivas e materiais, não possuem qualquer outra pauta senão serem aceitos e cooptados pelo mercado (pelo modelo majoritário dominante do mercado), que através deles vai lucrar e espoliar. São talvez os menos nocivos do que os outros três, apenas não lhes foi apresentada a teoria revolucionária de acordo com suas realidades étnicas, sexuais, biológicas, etc. De qualquer forma, a casca é nociva. Construção revolucionária? Mudança estrutural? Não. Entregues ao liberalismo… Não lhes ensinaram ou não querem saber que o capitalismo é que deve ser combatido, pois o capitalista é o homem, branco, heteronormativo, etc. (Por outro lado, possuem toda razão de não quererem um socialismo só de brancos, só de homens, só de heteros, daí a necessidade da junção da causa.) Ao invés de tal visão, competem entre si. Não há, aqui, nada de Ângela Davis (comunista e marxista). Feministas, negros, LGBTs são levados a competirem dentro da própria classe em troca de um emprego, de um cargo maior, maior visibilidade, maior salário, salários iguais e afins. Há parlamentares do PSOL batendo palmas para uma Maju Coutinho como “representatividade”, quando, na realidade, trata-se de exemplo personalista, e de uma emissora que defende o neoliberalismo e a privatização diariamente, logo que promove o racismo. (Lembrem-se do livro do Diretor Geral de Jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel: Não Somos Racistas. Uma Reação aos que Querem nos Transformar Numa Nação Bicolor…)

(4) As cúpulas enrijecidas e eleitoreiras da democracia liberal burguesa, que lançam os quadros de cima para baixo para fins do grupelho político alçar vôo às buracracias federal, estadual, municipal. São determinantes para a peleguice. Existem em todos os exemplos anteriores, mesmo em partidos ditos socialistas e comunistas (afinal, a estrutura forma e mantém a superestrutura…), e em outros mais. Há, por exemplo, uma cúpula jurídica ferrenha no Partido dos Trabalhadores, e eu tenho insistido que esse partido só irá se renovar de verdade quando a “Juventude Socialista do PT” expulsar a cúpula eleitoreira e tomar a direção do partido, o que só aconteceria se tal Juventude fosse, mesmo, socialista e tivesse uma educação teórico-prática, da qual a cúpula jamais investirá para não perder seu pequeno poder… O PSOL, por exemplo, é um partido de frentes e, mesmo possuindo alas como a Revolução Brasileira e a Esquerda Marxista, amarra todo o partido numa lógica pequeno-burguesa de “manada”, sem perspectiva revolucionária, adequação ao sistema. É de se perguntar se o “centralismo”, portanto, não seria mais benéfico para o marxismo. Mesmo o Comitê Central do PCB ainda não conseguiu resolver a crise de direção, porque pensa totalmente em termos de Lênin (um partido que se confunde com o próprio Estado e não consegue mitigar a burocracia). Gramsci, com o seu “Príncipe moderno”, falava de um partido que fosse parte da classe, em contraposição a um partido com intelectuais dirigentes e filiados ou funcionários não necessariamente ligados à classe trabalhadora, que só se ligam a essa classe num momento de ruptura (espontaneísmo equivocado, ao invés de construção hegemônica). Para Gramsci (Q 13, 36, 1.634), que defende no cárcere fascista o centralismo democrático orgânico, é preciso “uma contínua adequação da organização ao movimento real, uma capacidade de temperar os impulsos da base com o comando pelo alto, uma inserção contínua dos elementos que desabrocham do mais profundo das massas no quadro sólido do aparato da direção que assegura a continuidade e a acumulação regular das experiências […] é ‘orgânico’ porque leva em conta o movimento, que é o modo orgânico de revelação da realidade histórica, e não se enrijece mecanicamente na burocracia”. O Partido emerge e realiza-se, assim, como instância reguladora e de estabilidade para a hegemonia (revolução) das forças de base e de seus grupos afins e aliados, não para o enrijecimento do núcleo dirigente central, que, em processo avançado, se se distanciar da sua vocação histórica, pode não só cair no centralismo burocrático como também não passar dum “órgão de polícia” (Q 14, 34, 1.692) de critérios discriminatórios. Isto, por enquanto, ainda não foi concretizado, daí a importância da teoria do partido gramsciano… Enfim, tanto num como noutro caso, é o oposto das cúpulas eleitoreiras e enrijecidas de que falo, que não só não são intelectuais (ou não têm sido) como tampouco descentralizam poder ao povo, filiados, militantes, sendo que estes últimos fazem papel de “militontos” (pior ainda quando são militontos eleitoreiros sem perspectiva de profunda transformação estrutural). Campanhas eleitorais e voto – o próprio Engels, sem abidcar da tomada de poder, admite num percuciente prefácio de As Lutas de Classes na França, quando ambos os direitos se consolidaram pela primeira vez na história a partir da luta do trabalhadores – são oportunidades de chegarmos na classe trabalhadora, de a organizarmos para governar e de divulgar nossa programática e luta. Mas a maior parte das cúpulas veem apenas eleições, mais nada; as eleições são um fim. Substituíram as lutas de classes, ou melhor, não percebem ou não querem perceber as lutas de classes permanentes e diárias em troca de disputas políticas e politiqueiras apequenadas. O país pode pegar fogo, não importa, isto apenas servirá daqui a 4 anos como justifica para esses irresponsáveis atacarem os candidatos adversários, todos eles lançados de cima para baixo pelas cúpulas, conquistarem a máquina pública, para administrarem o Estado burguês, ao invés de disputarem em todos os momentos posições revolucionárias na sociedade civil a fim de um novo Estado… Mas não pensem, não, que os partidos ditos revolucionários se diferenciam disto. A farsa é grande e ainda mais hipócrita neles. PCO ou Unidade Popular (este último ainda precisa esclarecer o fato de ser ou não braço institucional do PCR) não escapam disso. Os incautos da militância não notam. Uma vez tendo conquistado assinaturas do povo para a criação do partido, estes são esquecidos e, encalacradas nos vícios institucionais da ordem burguesa, sem abrir as listas partidárias para base, filiados e militância, com programas muitas vezes realmente socialistas (papel aceita tudo), contra as “leis burguesas” (mesmo enviando mensal ou anualmente comprovações para as instituições burguesas, para o TSE ou o TRE!!!), arrastam base e militância para apanhar em desvantagem na rua da polícia, pois nunca conseguem hegemonia, e tampouco se empenham de verdade para tal, porque estão conformados no poder institucional de cúpula. Este tem sido o nosso grande gargalo, o calcanhar de Aquiles, o círculo vicioso das esquerdas, que precisará ser resolvido de vez. Uma militância institucional revolucionária (parece paradoxo, revolução e instituição) precisa derrubar essas cúpulas pelegas a fim de começar a “traduzir” para nosso tempo e espaço o partido tal como teorizado por Gramsci e marxistas brasileiros.