A CPI da COVID, a eleição de 2022 e o objetivo da direita

Informações dos bastidores da política!

Está prevista para amanhã, dia 27, a abertura da “CPI da Covid” no Senado Federal para investigar e avaliar a omissão criminosa, a sabotagem explícita e a responsabilização do governo Bolsonaro (com e sem o sinistro Eduardo Pazuello, general incompetente que aceitou a conivência mortífera e a humilhação dum ex-capitão expulso) com relação à pandemia. Todo brasileiro sabe – mas especialistas endossam – que bastariam as falas e atitudes de Bolsonaro esse tempo todo para a responsabilização criminal, portanto a CPI serve para confirmar, trazer mais dados concretos e de transparência pública.

No entanto, podemos dizer que a CPI não é nem de longe formada majoritariamente por membros da esquerda, o único espectro político realmente lúcido durante toda a pandemia, mesmo não sendo monolítico e mesmo com momentos de concessões, equívocos liberalóides, utopias (ou peleguice) em relação à burguesia, pragmatismo.

Vejamos – os integrantes plenos da CPI são: Eduardo Braga (MDB-AM), Renan Calheiros (MDB-AL e relator), Ciro Nogueira (PP-PI), Otto Alencar (PSD-BA), Omar Aziz (PSD-AM e presidente da comissão), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Eduardo Girão (Podemos-CE), Humberto Costa (PT-CE), Randolfe Rodrigues (Rede-AP, criador da CPI e vice-presidente), Jorginho Mello (PL-SC) e Marcos Rogério (DEM-RO). Há ainda membros suplentes, praticamente dos mesmos partidos direitistas. PT é centro-esquerda, conta com um membro só, a Rede é oposição ferrenha entre a centro-direita e a centro-esquerda, mas trata-se dum partido errático, que há poucos anos defendia a Farsa Jato. E só. Os outros são de direita, a maioria com um pé no “Centrão” (direita sem ideologia).

Porém, o desenho supracitado é pouco favorável ao presiDEMENTE – não há nenhum nome totalmente fiel a ele e seus crimes. É por isso que o DESgoverno está desesperado, empenhando-se como nunca para se defender, e até mesmo tentando tirar Renan Calheiros da relatoria. Ele respondeu: “Por que tanto medo?”. Não falta quem tenha já dito e escrito que se os sicofantas que hoje possuem o governo federal em mãos tivessem tido o mesmo empenho para combater a pandemia, não estaríamos diante de quase – quase – 400 mil óbitos de brasileiros (e subindo).

Estivéssemos com um mínimo de poder popular, a CPI seria formada por conselhos nacionais de amplos setores da população, incluindo enfermeiros, juristas populares, cientistas e médicos. Como está, no entanto, promete ser uma pedra no sapato da extrema-direitalha. Explico:

Um dos acontecimentos políticos mais importantes da semana passada, que não pode deixar de ser desapercebido a respeito deste assunto, foi a entrevista de Gilberto Kassab, que manda no PSD, afirmando que Bolsonaro não irá para o segundo turno da eleição presidencial de 2022. (O PSD eventualmente faz parte, assim como o DEM, ora sim, ora não, do fisiologista “Centrão”, direita sem ideologia.)

Ao dar a entrevista, sinaliza para os atores políticos que começa-se a atuar com essa hipótese. O objetivo de setores da direita e da “centro-direita” é utilizar a CPI da COVID para desgastar ainda mais a imagem de Bolsonaro (ele tem uma reprovação enorme, sobretudo se considerarmos primeiro mandato) de tal modo que chegue combalido no ano de 2022 e não vá para o segundo turno.

Este também é um dos motivos pelo qual Arthur Lira (presidente da Câmara dos Deputados através de conchavos e negociatas), assim como o anterior Rodrigo Maia, ainda não tirou da gaveta um dos mais de 100 (cem!) pedidos de impeachment. (E Mourão, grau 33 da maçonaria, dum partido pérfido e fraco, tampouco interessa à oposição e à situação.)

Por que a direita quer isso? Primeiramente, porque é mais vantajoso um nome que não seja, de cara, de extrema-direita, “independente”,  terrivelmente ruim, deteriorável, a isolar o país numa geopolítica já totalmente transformada (em português claro, estamos na contramão do mundo), e para continuar as contrarreformas neoliberais, apregoadas pela mídia hegemônica monodiscursiva, com visual low profile, enganoso, já que são os mesmos que apoiaram Bolsonaro antes; segundo, porque a direitalha (que nunca se assumiu como de direita, senão perde voto) está tão prejudicada por conta de Bolsonaro, assumidamente de direita, que eles sabem o que vão enfrentar.

Assim, abre-se espaço para outro candidato da direita, ou seja, esses setores direitisitas e até oligárquicos, representantes do pior empresariado, consideram (e os institutos de pesquisa atestam previamente) que Lula/PT, como sempre, por ter base social sólida e legado, está inevitavelmente no segundo turno e que ele vencerá se enfrentar Bolsonaro (tal como venceria em 2018 não tivesse sido preso indevidamente), daí a preocupação desses setores de emplacar outro nome (que ainda não têm), já que Bolsonaro, além de enfraquecido e encurralado, atuando apenas para se safar de tantos crimes seus e de sua familícia, não dá espaço para Kassab e afins.

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Escrevi, há poucas semanas, um texto crítico com relação a Lula, intitulado “Lula e a utopia da conciliação de classes“, mas nunca deixei de considerar o fato inconteste de ser ele a maior liderança orgânica do país e uma das maiores do mundo – em determinados momentos, um protagonista do movimento progressista.

Agora, a reabilitação dos direitos políticos de Lula com a anulação dos processos dos lesa-pátria lavajateiros de Curitiba – por um Edson Fachin que, com toda certeza, quis com sua manobra livrar Sérgio Moro, agradar a gregs e troianos – e, já no dia seguinte, o início do julgamento da suspeição de Moro pelo Supremo Tribunal Federal (que Faschin quis interromper, revelando sua intenção) certamente restauraram a cidadania e provocaram uma onda de alegria, entusiasmo, fôlego e alívio em milhões de brasileiros num momento terrível e cinzento de DESgoverno, falta de liderança, desmobilização, isolamento geopolítico, distanciamento sanitário, crise capitalista, sufoco, descrédito, nenhuma perspectiva, ataques direitistas e pandemia mortífera. Tento não me deixar levar e ter os pés calcados na crítica.

O momento talvez lembre, guardadas as enormes diferenças contextuais e até de estatura das figuras, a ditadura de Vargas I e a promessa de um Prestes Cavaleiro da Esperança redentor, que não se cumpriu. Aliás, ambos – na verdade, Vargas II – subiram juntos em palanque anos depois…

Agora, pensem bem. Se a grande mídia hegemônica – Globo, Folha, Estadão – está fula com Lula  (chamando-o de “monstrengo”, mais uma vez investindo no terrorismo da época da Guerra Fria ao dizer que ele joga o Brasil “num turbilhão de incertezas”, sendo que governou também para eles e para o empresariado por 8 anos, estupidamente nivelando-o com Bolsonaro, já que o plano seria emplacar um direitista que continuasse com as contrarreformas antipopulares, o que eles não têm, etc.), Lula, um utópico da conciliação de classes, imaginem o que os capitalistas e seus capangas fariam contra um comunista, um marxista realmente calcado na teoria e na práxis que fosse intelectual/líder orgânico e tivesse enorme organização popular consigo!

Isto é para vocês verem o quão ignóbil e desprezível é a nossa elite econômica, o quão a centro-esquerda apenas ocupa posições que deveriam ser de uma direita minimamente sensata, o quão irracional é a direitalha, que só ganha com marionetes toscas não-orgânicas, bizarras e exóticas sem projeto sério – Jânio, Collor, Bolsonaro, etc. Diante dessa miséria ideopolítica, resta à doutrina marxista ser ainda minoritária na esquerda – mas sua força é explosiva!

Os destinos de Marighella, Che Guevara, Allende (um médico equilibrado, que disputou eleição nos conformes da regra eleitoral da farsa burguesa, porém autoproclamado comunista e suicidado por Pinochet e EUA!), personagens da Intentona Comunista e muitos outros nomes deste continente e alhures (praticamente todo marxista e comunista) que o digam, a própria História mostra o que acabo de afirmar sobre o elitismo anticomunista…

Para terminar, cabe uma palavra filosófica. Obviamente, não se trata apenas da situação de que uma transformação radical exige uma reação radical, de que um processo revolucionário justificaria a contrarrevolução (fórmula nazifascista em favor dos capitalistas e proprietários fundiários), mas o inverso, a transformação é radical justamente pelas próprias condições dadas no jogo de tabuleiro após a acumulação primitiva e a concentração da posse, porque os oponentes de tal transformação já estão fortemente armados contra a melhoria da humanidade e da socioeconomia para perpetuar seus sórdidos interesses e privilégios de classe dominante, que queremos abolir e socializar a todos e todas.

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