Estado e sociedade em Gramsci

No artigo disponível acima, em profundo contato com os Cadernos do Cárcere e outros textos gramscianos e marxistas fundamentais, praticamente a cada parágrafo, eu mostro que, para o líder dirigente do PCI, militante da Internacional, deputado preso pelos fascistas e grande intelectual marxista Antonio Gramsci, Estado e sociedade estão em relação dialética, não dualista.

A separação entre ambos só interessa à ideologia burguesa, que demoniza o público, torna o Estado pura coerção, reivindica a tirana autorregulação do mercado (neoliberalismo e afins) e camufla a dominação de classes na sociedade civil (tida como espaço da “livre iniciativa”), seja a dominação da fábrica capitalista ou do consenso em escolas, mídia, jornais etc. Há também uma esquerda de ingênua fenomenologia anarquista, pior ainda quando cita Gramsci (sem o estudar), que cai na armadilha liberal e, ao invés de lutar pela hegemonia da classe subalterna para esta tornar-se dominante (isto é Gramsci!), rejeita a luta política, reafirma a sua subalternidade.

Ao separar a superestrutura marxiana e engelsiana em dois níveis (“sociedade civil” e “sociedade política”), G. une os dois níveis em teoria inovadora e fatídica sobre o Estado. (Lembrem do poder do lobby no Congresso Federal, do vínculo podre entre empresariado e políticos, da legislação burguesa que molda as ações da sociedade sob a forma mercadoria ou do fato de que as forças militares do Estado servem à defesa da propriedade privada dos meios de produção da burguesia…)

Gramsci mostra que a sociedade civil é um momento do que ele chama de Estado integral ou ampliado e uma arena das lutas de classes. “Todo Estado é uma ditadura.” Esta teoria sustenta as estratégias gramscianas da revolução no Ocidente (“guerra de posição”, “guerra de movimento”, etc.) e a tese da “sociedade regulada” (comunismo), que é construída à medida que o Estado-coerção esgota-se e dissolve-se na sociedade civil para o fim da divisão de classes após a conquista proletária revolucionária do poder (tal como em Marx e Engels, com a diferença de que G. chega a defender a conquista da hegemonia antes da conquista do poder governamental).