Eduardo Leite, que se assumiu gay só agora, diz não se arrepender de ter apoiado Bolsonaro e defende agenda neoliberal de Paulo Guedes

https://sul21.com.br/ultimas-noticias-politica-areazero-2/2020/07/leite-diz-que-nao-se-arrepende-de-ter-votado-em-bolsonaro-e-defende-agenda-de-paulo-guedes/

https://www.youtube.com/watch?v=fC-hJ6VyjGA
Eduardo Leite, que se assumiu gay só agora, mesmo apoiando, de quebra, a homofobia de Bolsonaro, é exemplo máximo do que venho alertando a respeito do identitarismo (que, em seu caso, sequer é pauta que agregue algo) sem centralidade na categoria de classe social! Colegas gaúchos me disseram que ele está vendendo tudo para o setor privado e arrasando com professores (conforme é típico dos tucanos).
Tudo indica, então, que a Globo finalmente encontrou seu candidato de direita para a Presidência, num rompante de marketing eleitoreiro para fazer o inexpressivo ser conhecido pelo resto do país no programa do decadente Pedro Bial (e o Jornal Nacional noticiou novamente o fato dele ter se assumido gay), um típico representante de um “Quebrando o Tabu” e afins: um tucano neoliberal que engana identitários, incautos, distraídos e despolitizados com afirmação de sexualidade que nem sequer é pauta sua de movimento social, como se LGBTs não tivéssemos classe social, para tentar seguir com as privatizações e contrarreformas que atacam a classe trabalhadora e a população no geral.
Não foi isso também que a Rede Globo, ou seja, a família Marinha com os chefes executivos – e eu avisei desde o início diante de parte da esquerda superficial, deslumbrada, meramente arrivista e sem teoria – elaboraram com uma Maju Coutinho, colocando-a como vitrine para um jornalismo que defende há anos as privatizações e as contrarreformas que, no fundo, perpetuam o racismo?

O sucessor do bandido Ricardo Salles prova mais uma vez que é preciso tirar Jair Bolsonaro

Ricardo Salles, que pediu demissão hoje do Ministério do Meio Ambiente do DESgoverno Bolsonaro senão iria preso pelo escândalo de madeiras, é um serviçal de desmatadores, grileiros, empresários do agronegócio, proprietários fundiários, fazendeiros e latifundiários. Não é outra a função da direitalha senão servir ao poder econômico da burguesia destrutiva.

Não me recordo se já contei, mas, quando fazia um curso de arte e política no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, em 2019, ouvi de um dos participantes que, quando Salles ainda era secretário do governo Alckmin em SP, ao saber que ele havia ocultado área geográfica da bacia do rio Tietê para favorecer capitalistas predadores, o rapaz – que nos mostrou seus belos desenhos de fauna e flora – o denunciou e, ameaçado de morte, teve de deixar o país… (Sim, isto ocorreu antes de Bolsonaro!)

Salles seria condenado em dezembro de 2018 por esse crime – mesmo assim, o sacripanta Bolsonaro, antes e depois da posse, o manteve nomeado.

No seu lugar, entra agora Joaquim Álvaro Pereira Leite, que já era próximo do sacripanta que não pode continuar no Palácio do Planalto. Haja vista que, tão logo seu nome foi anunciado, já pululam boas matérias a seu respeito:

Família de novo ministro do Meio Ambiente disputa posse em terra indígena em SP (23/06/2021):

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57590288

Ricardo Salles: saída tardia de ministro não mudará política pró-desmatamento de Bolsonaro, dizem ONGs (24/06/2021):

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57595804

A CPI da COVID, a eleição de 2022 e o objetivo da direita

Informações dos bastidores da política!

Está prevista para amanhã, dia 27, a abertura da “CPI da Covid” no Senado Federal para investigar e avaliar a omissão criminosa, a sabotagem explícita e a responsabilização do governo Bolsonaro (com e sem o sinistro Eduardo Pazuello, general incompetente que aceitou a conivência mortífera e a humilhação dum ex-capitão expulso) com relação à pandemia. Todo brasileiro sabe – mas especialistas endossam – que bastariam as falas e atitudes de Bolsonaro esse tempo todo para a responsabilização criminal, portanto a CPI serve para confirmar, trazer mais dados concretos e de transparência pública.

No entanto, podemos dizer que a CPI não é nem de longe formada majoritariamente por membros da esquerda, o único espectro político realmente lúcido durante toda a pandemia, mesmo não sendo monolítico e mesmo com momentos de concessões, equívocos liberalóides, utopias (ou peleguice) em relação à burguesia, pragmatismo.

Vejamos – os integrantes plenos da CPI são: Eduardo Braga (MDB-AM), Renan Calheiros (MDB-AL e relator), Ciro Nogueira (PP-PI), Otto Alencar (PSD-BA), Omar Aziz (PSD-AM e presidente da comissão), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Eduardo Girão (Podemos-CE), Humberto Costa (PT-CE), Randolfe Rodrigues (Rede-AP, criador da CPI e vice-presidente), Jorginho Mello (PL-SC) e Marcos Rogério (DEM-RO). Há ainda membros suplentes, praticamente dos mesmos partidos direitistas. PT é centro-esquerda, conta com um membro só, a Rede é oposição ferrenha entre a centro-direita e a centro-esquerda, mas trata-se dum partido errático, que há poucos anos defendia a Farsa Jato. E só. Os outros são de direita, a maioria com um pé no “Centrão” (direita sem ideologia).

Porém, o desenho supracitado é pouco favorável ao presiDEMENTE – não há nenhum nome totalmente fiel a ele e seus crimes. É por isso que o DESgoverno está desesperado, empenhando-se como nunca para se defender, e até mesmo tentando tirar Renan Calheiros da relatoria. Ele respondeu: “Por que tanto medo?”. Não falta quem tenha já dito e escrito que se os sicofantas que hoje possuem o governo federal em mãos tivessem tido o mesmo empenho para combater a pandemia, não estaríamos diante de quase – quase – 400 mil óbitos de brasileiros (e subindo).

Estivéssemos com um mínimo de poder popular, a CPI seria formada por conselhos nacionais de amplos setores da população, incluindo enfermeiros, juristas populares, cientistas e médicos. Como está, no entanto, promete ser uma pedra no sapato da extrema-direitalha. Explico:

Um dos acontecimentos políticos mais importantes da semana passada, que não pode deixar de ser desapercebido a respeito deste assunto, foi a entrevista de Gilberto Kassab, que manda no PSD, afirmando que Bolsonaro não irá para o segundo turno da eleição presidencial de 2022. (O PSD eventualmente faz parte, assim como o DEM, ora sim, ora não, do fisiologista “Centrão”, direita sem ideologia.)

Ao dar a entrevista, sinaliza para os atores políticos que começa-se a atuar com essa hipótese. O objetivo de setores da direita e da “centro-direita” é utilizar a CPI da COVID para desgastar ainda mais a imagem de Bolsonaro (ele tem uma reprovação enorme, sobretudo se considerarmos primeiro mandato) de tal modo que chegue combalido no ano de 2022 e não vá para o segundo turno.

Este também é um dos motivos pelo qual Arthur Lira (presidente da Câmara dos Deputados através de conchavos e negociatas), assim como o anterior Rodrigo Maia, ainda não tirou da gaveta um dos mais de 100 (cem!) pedidos de impeachment. (E Mourão, grau 33 da maçonaria, dum partido pérfido e fraco, tampouco interessa à oposição e à situação.)

Por que a direita quer isso? Primeiramente, porque é mais vantajoso um nome que não seja, de cara, de extrema-direita, “independente”,  terrivelmente ruim, deteriorável, a isolar o país numa geopolítica já totalmente transformada (em português claro, estamos na contramão do mundo), e para continuar as contrarreformas neoliberais, apregoadas pela mídia hegemônica monodiscursiva, com visual low profile, enganoso, já que são os mesmos que apoiaram Bolsonaro antes; segundo, porque a direitalha (que nunca se assumiu como de direita, senão perde voto) está tão prejudicada por conta de Bolsonaro, assumidamente de direita, que eles sabem o que vão enfrentar.

Assim, abre-se espaço para outro candidato da direita, ou seja, esses setores direitisitas e até oligárquicos, representantes do pior empresariado, consideram (e os institutos de pesquisa atestam previamente) que Lula/PT, como sempre, por ter base social sólida e legado, está inevitavelmente no segundo turno e que ele vencerá se enfrentar Bolsonaro (tal como venceria em 2018 não tivesse sido preso indevidamente), daí a preocupação desses setores de emplacar outro nome (que ainda não têm), já que Bolsonaro, além de enfraquecido e encurralado, atuando apenas para se safar de tantos crimes seus e de sua familícia, não dá espaço para Kassab e afins.

Ver também

Lula readquire os direitos políticos e está elegível para 2022: vamos pensar?

Não existe “polarização” (farsa da ideologia liberal): existem lutas de classes, ora veladas, ora abertas, como já afirmava o Manifesto Comunista, e com seus respectivos representantes ou lideranças…

Escrevi, há poucas semanas, um texto crítico com relação a Lula, intitulado “Lula e a utopia da conciliação de classes“, mas nunca deixei de considerar o fato inconteste de ser ele a maior liderança orgânica do país e uma das maiores do mundo – em determinados momentos, um protagonista do movimento progressista.

Agora, a reabilitação dos direitos políticos de Lula com a anulação dos processos dos lesa-pátria lavajateiros de Curitiba – por um Edson Fachin que, com toda certeza, quis com sua manobra livrar Sérgio Moro, agradar a gregs e troianos – e, já no dia seguinte, o início do julgamento da suspeição de Moro pelo Supremo Tribunal Federal (que Faschin quis interromper, revelando sua intenção) certamente restauraram a cidadania e provocaram uma onda de alegria, entusiasmo, fôlego e alívio em milhões de brasileiros num momento terrível e cinzento de DESgoverno, falta de liderança, desmobilização, isolamento geopolítico, distanciamento sanitário, crise capitalista, sufoco, descrédito, nenhuma perspectiva, ataques direitistas e pandemia mortífera. Tento não me deixar levar e ter os pés calcados na crítica.

O momento talvez lembre, guardadas as enormes diferenças contextuais e até de estatura das figuras, a ditadura de Vargas I e a promessa de um Prestes Cavaleiro da Esperança redentor, que não se cumpriu. Aliás, ambos – na verdade, Vargas II – subiram juntos em palanque anos depois…

Agora, pensem bem. Se a grande mídia hegemônica – Globo, Folha, Estadão – está fula com Lula  (chamando-o de “monstrengo”, mais uma vez investindo no terrorismo da época da Guerra Fria ao dizer que ele joga o Brasil “num turbilhão de incertezas”, sendo que governou também para eles e para o empresariado por 8 anos, estupidamente nivelando-o com Bolsonaro, já que o plano seria emplacar um direitista que continuasse com as contrarreformas antipopulares, o que eles não têm, etc.), Lula, um utópico da conciliação de classes, imaginem o que os capitalistas e seus capangas fariam contra um comunista, um marxista realmente calcado na teoria e na práxis que fosse intelectual/líder orgânico e tivesse enorme organização popular consigo!

Isto é para vocês verem o quão ignóbil e desprezível é a nossa elite econômica, o quão a centro-esquerda apenas ocupa posições que deveriam ser de uma direita minimamente sensata, o quão irracional é a direitalha, que só ganha com marionetes toscas não-orgânicas, bizarras e exóticas sem projeto sério – Jânio, Collor, Bolsonaro, etc. Diante dessa miséria ideopolítica, resta à doutrina marxista ser ainda minoritária na esquerda – mas sua força é explosiva!

Os destinos de Marighella, Che Guevara, Allende (um médico equilibrado, que disputou eleição nos conformes da regra eleitoral da farsa burguesa, porém autoproclamado comunista e suicidado por Pinochet e EUA!), personagens da Intentona Comunista e muitos outros nomes deste continente e alhures (praticamente todo marxista e comunista) que o digam, a própria História mostra o que acabo de afirmar sobre o elitismo anticomunista…

Para terminar, cabe uma palavra filosófica. Obviamente, não se trata apenas da situação de que uma transformação radical exige uma reação radical, de que um processo revolucionário justificaria a contrarrevolução (fórmula nazifascista em favor dos capitalistas e proprietários fundiários), mas o inverso, a transformação é radical justamente pelas próprias condições dadas no jogo de tabuleiro após a acumulação primitiva e a concentração da posse, porque os oponentes de tal transformação já estão fortemente armados contra a melhoria da humanidade e da socioeconomia para perpetuar seus sórdidos interesses e privilégios de classe dominante, que queremos abolir e socializar a todos e todas.

Ver também

DENÚNCIA: Médicos privados e do SUS estão receitando ivermectina e azitromicina para COVID-19!

Uma pessoa da minha família pegou COVID-19 e a médica do SUS (!) receitou ivermectina (que o sacripanta Jair Bolsonaro, reforçando seus crimes de responsabilidade, voltou a defender hoje junto ao medicamento Annita, mas que só mata piolho e lombriga) e azitromicina (antibiótico também sem comprovação científica, conforme vários estudos demonstraram), além de outros remédios menos absurdos contra os sintomas (prednisona, novalgina, vitaminas D3 e C), ou seja, como se fosse um “kit”!

Enquanto o resto do planeta Terra (que não é plana) começa a se vacinar!

Ao escrever este relato, recebo de contatos outros relatos contando que médicos da rede privada também estão receitando tais medicamentos.

Um colega – do Direito, não da Medicina – me diz que a azitromicina, conforme mostra a bula, pode servir para complicações respiratórias, já que o sintoma mais fatal da COVID-19 é a falta de ar… Mas isso não retira o que dizem os estudos internacionais e não responde aos meus questionamentos, que escreverei no final. E o pior e tão preocupante quanto: o uso desenfreado de antibióticos durante essa pandemia pode levar a “apagão” contra bactérias resistentes, conforme pesquisadores e médicos têm alertado.

Leio que um ou outro prefeito direitista também incentiva tais “kits” – ao invés de fazerem como prefeitos e governadores mais sensatos, que correm atrás da vacinação.

Não nos interessa se esses médicos votaram 17 nas urnas em 2018, não nos interessa se não passam de sicofantas – nos interessa a Ciência, ou é caso para serem impedidos de exercer a função! Será que essa médica faz parte do “grupo” de “tratamento precoce contra COVID-19”, que se julga apto e “independente” a receitar insanidades, mesmo quando sob riscos de efeitos colaterais?! Sem consenso nenhum com a comunidade médica, epidemológica e científica?! A troco de que?! Simplesmente não existe ainda qualquer “tratamento precoce” para COVID-19, a doença do novo coronavírus. Os usuários não estão nem mesmo sendo “cobaias” (e nem poderiam), porque, conforme escrevi acima, estudos com tais medicamentos já foram realizados e divulgados.

Um receituário é a via final, é o resultado de um longo processo que envolve estudos científicos e imunológicos de outros profissionais gabaritados! E tais estudos têm sido amplamente divulgados.

Aos médicos e profissionais da Saúde que me acompanham, se manifestem! Ninguém faz nada?! Fica por isso mesmo?! O que está por trás?

Por que essa defesa insistente de um governo que não está nem aí para a pandemia e para os óbitos diários (antes, renitente em relação à ineficaz hidroxicloroquina, como se Bolsonaro fosse um garoto-propaganda do lucro farmacêutico escuso e do negacionismo), um governo que destruiu o ministério da Saúde e nossa expertise em vacinação?!

Por que o alinhamento de certos médicos com essa defesa renitente?! A troco de que?!

É uma quadrilha de corrupção em conluio com laboratórios? Essa gente não é “maluca” de graça, e fanatismo que atropela ciência e anos de estudo – e até reputação! – só pode ter interesses! Quais?! Como?!

E a conivência mafiosa do Conselho Federal de Medicina e do Conselho Regional de Medicina?! A troco de quais interesses?!

Quer dizer que a “categoria médica”, ostentando seus privilégios (a Medicina, no Brasil, é curso elitista de classe média, e as exceções confirmam a regra), só esbraveja quando é para ser contra os médicos cubanos – que vieram suprir a falta dos médicos brasileiros, que não vão à periferia e aos rincões do país? Ruy Castro escreveu que tal categoria e suas organizações, diante da pandemia e da incompetência, deveriam já ter feito algo para impedir e até derrubar (juntar-se aos mais de 50 pedidos de impeachment, por exemplo) o sujeito que ocupa a Presidência, uma vez que ninguém melhor do que os próprios médicos para julgarem o seu papel neste momento de crise sanitária.

O que realmente está acontecendo?

Ps.: Notícia de ontem – Morre aos 36 anos pastor “bolsonarista” que defendia cloroquina e ivermectina. São várias as notícias de casos assim…

Ps. 2: Infectologias reforçam posição contra tratamento precoce da COVID-19.

Assisti ‘Amarcord’, de Fellini: impossível não associar fascismo ao Brasil com Bolsonaro

Eu, que me emocionei certa vez no CineSesc da Rua Augusta ao assistir A Estrada (1954, filme que comprova que é possível entrar na estética e sair na ética), que já chorei umas três vezes assistindo (1963, um dos meus filmes preferidos, às vezes o preferido junto ao Nosferatu de Murnau, de 1922), que me arrepio todo sempre que revejo o final sobre a incomunicabilidade de A Doce Vida (1960) com aquele sorriso da jovem em fade out, mais enigmático do que o da Monalisa, assisti, ontem, Amarcord (1973) pela primeira vez. (Obs.: Mais uma vez, a certeza – já enunciada por Tarkóvski em Esculpir o Tempo – de que nenhum outro compositor senão Nino Rota consegue compor uma música que contenha alegria, fanfarronice, melancolia, tristeza num mesmo tema, tal como pede todo Fellini, cujo olhar cinematográfico passeia sempre com amorosidade e sem julgamento pelos mais variados tipos humanos…)

No antológico e semiautobiográfico filme Amarcord, Federico Fellini retrata como o fascismo de Mussolini (subversivismo reacionário, para usar a expressão do grande Gramsci, preso pelos fascistas), que durou mais de 20 anos (de 1922 até o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945), junto à Igreja Católica, aprisionou os italianos numa perpétua adolescência. Em todo filme sobre Hitler ou Mussolini, há uma multidão de fanáticos, desprezíveis em sua ingenuidade ou proposital crueldade, enquanto outra multidão era perseguida, presa, assassinada; a imposição hipócrita da ordem de cima abaixo, enquanto os soldados não passam de beberrões irresponsáveis; um desejo sexual infantil a praticamente cada cena, reprimido e comum nas épocas de fundamentalismo, repressão, ordem. Destaque para uma faixa que diz “Deus, Pátria e Família” durante parada militar fascista, insígnias ultrapassadas e retrógradas que foram usadas na eleição de 2018 no Brasil. Destaque para a fumaça que permeia a cidade sob domínio fascista. Destaque para a bela cena em que alguém da resistência toca a Internacional Comunista, contra os fascistas.

Guardadas as enormes proporções e diferenças (o nazifascismo foi derrotado militarmente, mas ainda não totalmente ideologicamente), é mais ou menos o que vemos no Brasil com o sacripanta Jair Bolsonaro hoje (até quando?) e as Igrejas Evangelofascistóides: um certo infantilismo aborrecente, que pulula desde o linguajar chulo (discussões políticas com expressões infantilóides do nosso tempo de ensino médio e fundamental) até a irresponsabilidade social (com ou sem pandemia, mas sobretudo durante a pandemia). A esquerda sempre avisamos que não seria de outra forma.

O problema é que a sociopatia criminosa do DESgoverno já perdeu a graça e, antes que coisas piores aconteçam (sempre é possível piorar), resta acabar com a palhaçada mortífera ainda este ano, não importando se ele vai vender a própria mãe que o pariu, além de cargos e emendas, ao Centrão para safar a si e seus filhos delinquentes. Que os próximos adversários da classe trabalhadora venham, e vamos enfrentá-los! Nada de eleitorismo, nada de aludir a 2022, assumindo que o traste possa terminar seu mandato. Não pode. Fuzilamento, exposição do corpo em praça pública – não, calma, só estou me referindo ao final do Mussolini; basta seguir o rito da democracia burguesa falida e farsante, abrir um dos mais de 50 pedidos de impeachment ou interdição (desde que isso não o torne inimputável), embora a cassação da chapa Bolsonaro/Mourão tenha também fartas provas e motivos.

Ps.:

https://revistaforum.com.br/politica/bolsonaro-volta-a-imitar-mussolini-ao-nadar-em-praia-lotada-entre-seguidores/

(Enquanto o Brasil, que tinha expertise em vacinação e agora queda perdido sob a incompetência, conta mais de 200 mil mortos de COVID-19… Faltou, na matéria acima, apenas revelar que não são bem “seguidores”, ao menos não em termos de “apoio popular”, como ele pretende fingir, e sim PMs e seguranças devidamente posicionados na “cena”, aguardando ele chegar para a armação, conforme uma moradora de Praia Grande contou. O “marketing” serve para mentir “apoio popular” e se fazer de “humilde”, mesmo gastando milhões de horrores no cartão corporativo. Espanta que nem a mídia hegemônica nem figuras políticas desmascarem isso em rede nacional, tal como a “fakeada” e suas enormes incongruências mereciam melhores esclarecimentos.)

“‘Mussolini é o arquétipo de líderes populistas como Bolsonaro, Trump e Salvini’, diz autor italiano” (BBC Brasil, 06 de setembro de 2010).

“Bolsonaro posta frase de Mussolini” (1/06/2020) – que Trump também já havia compartilhado antes. Tanto no rosto/semblante quanto no comportamento “esquentado”, Bolsonaro é também quase uma cópia arremendada de Hitler, ainda que lhe falta qualquer elaboração política como a que havia, em nível baixíssimo, em Mussolini (a cara do Onyx Lorenzoni) e Hitler.

Colagem retirada da Internet – Mussolini e Hitler, Lorenzoni e Bolsonaro.
Esta colagem fui eu quem fiz em abril de 2019. Acima, o ex-cabo Adolf Hitler dá as mãos e se curva perante o General Paul von Hindenburg, presidente da República de Weimer que, por senilidade, pressão ou conivência, o nomeará como chanceler em janeiro de 1933. Abaixo, os avatares brasileiros, o ex-capitão expulso Bolsonaro e o general Hamilton Mourão, seu vice, ambos miscigenados de ideias mais ou menos nazifascistóides. Papéis trocados.

Abaixo, Amarcord em péssima qualidade visual, mas facilmente acessível para quem quiser assistir sem ter de baixar:

Povo e Centrão e (des)governo Bolsonaro

O quanto você, que se diz de esquerda, conhece realmente o Brasil e os brasileiros da base da pirâmide social?

São os descendentes periféricos da escravização in loco de 3 séculos e da Abolição feita nas coxas, da miscigenação mais explícita na cor de pele, filhos, depois, da migração-consequência-do-desajuste-geográfico-da-industrialização-nacional, de nível técnico e crítico baixo ou ingênuo ou nenhum, são os estigmatizados, os “burros”, “ignorantes”, mais do que pobres, semi-analfabetos e analfabetos, Macabéas, mas que, paradoxalmente, neste momento de crise, são os que seguram o país no dia a dia, dada a quantidade e espessura dessa camada na sociedade, através de bicos e na informalidade. Parece que Chico Buarque lhes retratou bem na canção “Brejo da Cruz” – salvo engano, canção dos anos 1980, depois de anos de uma ditadura que impediu reformas estruturais e atirou o país na marginalização… São, mentalmente, quase crianças – para usar a poética, não fosse trágica, denominação de um camarada comunista meu, funcionário público do setor de obras, que possui contato direto com pedreiros, motoristas, etc. Só os “evangélicos” — tanto pastores bandidos, ricos e fundamentalistas quanto “pastores/intelectuais orgânicos”, i.e., mais próximos da comunidade e de sua própria cor de pele miscigenada e classe social — é que penetraram para valer nessa camada nesses últimos 30 anos, prometendo-lhes subir e crescer, ter carro, negócio, dinheiro, o que a Igreja Católica, já em declínio e secularização, sempre demonizou (o catolicismo sempre quis perpetrar a condição do lúmpen miserável, nunca tirá-lo dessa situação). Donas de casas, faxineiras, guardas noturnos em maior dignidade do que os farrapos, mas essas classes da base da pirâmide muitas vezes se misturam e se confundem, sobretudo num país continental e complexo…

A esquerda (no mundo) comeu poeira, deixou de falar em revolução desde a Queda do Muro e o desmanche da burocracia da União Soviética, distanciou-se (um dos grandes erros do PT) dos seus princípios mais radicais, é hoje identificada por camadas sociais — caso dos Coletes Amarelos, na França, que expulsam partidos de esquerda dos protestos — com o próprio sistema econômico e estatal (direitista). A boa notícia — a médio e longo prazo — é que esse cenário tem solução. É incontornável, para uma solução, a construção da organização revolucionária que saiba que é possível conquistar a hegemonia antes de conquistar o poder. Que, formando intelectuais orgânicos e soldando intelectuais revolucionários com o povo-nação e sobretudo com uma classe trabalhadora sólida e consciente (classe essa que se encontra “acima” da “massa” na pirâmide), acabe com a desigualdade socioeconômica (fruto da maior parte do desespero espiritual contemporâneo) através da tomada, distribuição e socialização da propriedade privada dos meios de produção e que, concomitante e até antes disso, supere num processo gradual o senso comum com um novo senso crítico filosófico.

Tenho um cunhado que é gerente da Caixa Econômica Federal (outro funcionário público). Me contou do perfil geral dessa massa sem perspectiva nas enormes filas das agências pelo auxílio emergencial, que acaba este mês e cujo fim mudará todo o cenário diante do DESgoverno, da pauperização causada pelas contrarreformas neoliberais desde o golpeachment e Temer, da pandemia e do capitalismo contemporâneo, que já não gera mais emprego e nem vai gerar. Não sem incômodo por conta de seu ar de superioridade e por suas expressões pejorativas, ouvi ele me contar dos “vergonhosos”, “patéticos” e até insólitos erros linguísticos que têm escutado quase que diariamente e a falta de informação e de conhecimento (das coisas mais simples e bestas) que têm de enfrentar com esse “povo”. Houve até aqueles que, mesmo sem direito ao auxílio, quiseram ir saber o que diabos o governo estava dando para o povo. Suponho que não possuem acesso decente à Internet ou arrisco a dizer, com base no depoimento do meu cunhado, que possuem acesso, mas não sabem mexer (sem contar que, nos primeiros meses, a incompetência do desgoverno criou instabilidade no aplicativo do auxílio). Também, não basta “saber mexer” – é preciso transferir o auxílio da “conta virtual” do aplicativo para a conta bancária da Caixa ou esperar a data para transferir, sendo que para sacar é mais rápido, enfim, uma série de situações burocráticas que dificultam o acesso a todos. Caso contrário, não haveria fila pelas agências, com todos os riscos da aglomeração em plena pandemia de COVID-19.

(Não houve informação suficiente a respeito do fato de Bolsonaro e do terraplanista econômico Paulo Guedes, um Bolsonaro com Phd, não quererem, desde o início, dar auxílio algum, e que este foi conquista da oposição de esquerda e de outros setores do Congresso. No início, R$600 reais, que logo foram cortados pelo (des)governo pela metade, R$300 reais, e que chegarão ao fim mesmo com a pandemia e sem vacina, enquanto o resto do globo já começa a adquirir suas doses.)

Portanto, a respeito do tema Bolsonaro, sustentação da aprovação (grande entre emprésarios semiescravagistas) e desaprovação (a maior rejeição entre os presidentes em primeiro mandato, com exceção de Collor), é a subjetividade e condição de LÚMPEN (termo usado por Karl Marx em 18 Brumário de Luís Bonaparte e outros textos) que nos importam enquanto esquerda empática, não os fascistóides minoritários. O lúmpenproletariado é, em tradução literal, o proletariado de farrapos, mas existe uma mentalidade de lúmpen em amplos setores. Antes de mais nada, essa classe do lúmpen brasileiro é formada pela chocante desigualdade deste rico país (quando se afirma que o Brasil é desigual, trata-se não de um país pobre, mas “de um lado este carnaval/do outro, a fome total” num mesmo país, cidade, estado, bairro, rua). Além dos lúmpens, há uma “nova” classe trabalhadora informal chamada de precariado. Os livros do prof. Ricardo Antunes mapeiam a condição subproletária, do precariado, dos trabalhadores intermitentes e afins no capitalismo atual, inclusive entre os jovens com a “uberização”, que trabalham sem hora fixa para enriquecer a Uber, o iFood, etc. O problema é que o auxílio emergencial, justamente por ser destinado a quem não tem salário, acaba agregando todos esses. Assim, importa-nos, em caráter de urgência, a chocante defasagem socioeconômica e educacional dos abandonados, metidos numa ignorância proposital e secular, Macabéas que embarcam em quem lhes der mais e lhes ajudar com migalhas, não importando se é centro-esquerda ou se é direita aporofóbica, tal a situação degradante em que estão! Esta é a subjetividade e condição material típicas do chamado “lúmpen-proletariado”: aderir a quem possa lhes resolver, mesmo que momentaneamente, a dificuldade material. O Estado brasileiro na forma da oligarquia sempre foi hábil em sustentar o lúmpen, tirando-lhe a consciência crítica e revolucionária em troca de leite, uniforme escolar, migalhas.

Enfim, do que eles precisam e do que precisamos? Precisam duma esquerda que deseje e concretize construção revolucionária pela conquista da hegemonia mesmo antes da conquista do poder; da “soldagem” gramsciana entre intelectuais e povo-nação; de Paulo Freire e Antonio Gramsci; que sejam parte dirigente de um partido revolucionário e de movimentos sociais, unidos à classe trabalhadora, já que o capitalismo contemporâneo dificilmente vai transformá-los em classe trabalhadora clássica; precisam surgir do mais profundo da massa e virar intelectuais orgânicos que não só saibam exercer seu simples trabalham, mas que também entendam de teoria do valor, economia, política, história, dialética e revolução; não precisam de mera política pública e assistencialismo barato para voto de cabresto que, desde pelo menos Getúlio Vargas (“Façamos a revolução antes que o povo a faça!“), não derruba os pilares do país.

Outro dia, uma amiga me perguntou se a taxação de grandes fortunas não seria um passo decisivo para a transição socialista. Eu quase ri. Sem teoria, a esquerda parlamentar não faz outra coisa senão nivelar o debate. Uma pergunta lúcida a ser ensinada, pergunta de esquerda raiz: quem administrará o montante recolhido dos lucros e dividendos, das grandes heranças, dos iates e jatinhos? A classe trabalhadora? Os burocratas de Brasília? O Congresso, que nos espolia, pois a esquerda não tem ali uma hegemonia? Já na Crítica do Programa de Gotha Marx escreve que o imposto sobre renda (pauta de vários liberais da Manchester industrial) pressupõe as diferentes rendas das classes, logo pressupõe a sociedade de classes capitalista, não a construção de uma sociedade comunista. Transição socialista é, no mínimo, um governo popular e orgânico em forma de cooperativas, no setor da economia, e de conselhos populares na política, ao invés do Estado enquanto balcão administrativo da burguesia.

Voltemos ao caso do lúmpen. Guardadas as ENORMES diferenças, motivações, intuitos e proporções, trata-se da quase mesma postura que também o Centrão — direita sem ideologia, corrupta e fisiologista do sistema — desempenha na alta burocracia federal para apoiar governos federal, estaduais e municipais em troca de emendas parlamentares milionárias e cargos gordos na administração pública… Com o Centrão, um desgoverno fraco ganha mais musculatura, mesmo com todos os seus descalabros sociais. O Centrão que apoiou FHC, Lula, Dilma, Temer e agora Bolsonaro. Quem dá mais, lá vão eles. (O gângster psicopata Eduardo Cunha, antes de ser preso, ia além: era o “Centrão” que tinha pautas retrógradas em nome de Deus e Jesus, um pré-Bolsonaro bem mais calculista, centrado, perigoso…) Sem eles, não há voto no Congresso.  Até os milicos moralistas do DESgoverno já descobriram isso. Atualmente, neste ano de 2020, o Centrão é formado por parlamentares do PP (40 deputados), Republicanos (31), Solidariedade (14) e PTB (12). Este seria o “Centrão oficial”, mas, em certos momentos, dependendo da oferta, são somados o PSD (36 deputados), MDB (34), DEM (28), PROS (10), PSC (9), Avante (7) e Patriota (6).

Ora, como são eleitos, então? Uma mera reforma política que enxugasse o número de partidos mitigaria o poderio do Centrão? Um rápido estudo a respeito das origens do “Centrão” nos levará à constatação não só do lobby capitalista em Brasília, mas da renitente oligarquia brasileira e também do “coronelismo” regional em cidades por todo o país, da falta de uma democratização socialista de base, mas seria preciso maior aprofundamento a respeito.

Temos, assim, dois lados do país, de alto a baixo, a serem resolvidos.

Ps.: Os requisitos para o auxílio emergencial, segundo a própria página da Caixa Econômica Federal, ajudam a caracterizar melhor essa “sub-classe” (não inserida diretamente na contradição entre as forças produtivas da classe trabalhadora assalariada e os meios de produção detidos pelos capitalistas) da qual não estou, neste momento, muito distante: insta-me dizer que, como professor autônomo, também tive “direito automático” ao auxílio, sem nem mesmo fazer qualquer procedimento:

Pode solicitar o benefício o cidadão maior de 18 anos, ou mãe com menos de 18, que atenda a todos os seguintes requisitos:

Esteja desempregado ou exerça atividade na condição de:

– Microempreendedores individuais (MEI);  <- É preciso saber o quanto há resquício de ideologia neoliberal nesta denominação de “microempreendedor individual”.

– Contribuinte individual da Previdência Social; 

– Trabalhador Informal.

Pertença à família cuja renda mensal por pessoa não ultrapasse meio salário mínimo  (R$ 522,50), ou cuja renda familiar total seja de até 3 (três) salários mínimos (R$ 3.135,00).

Eleições municipais de 2020 – apontamentos conjunturais e estruturais

Eleições municipais de 2020 – apontamentos conjunturais e estruturais:
– Antes de mais nada, as eleições, tal como estão postas, ou seja, sob o capital, com regras eleitorais antidemocráticas e poderio econômico (fazendo com que a esquerda tenha que encontrar alternativas – assim como Guilherme Boulos, mais de 1 milhão de votos na cidade de São Paulo!, o fez com as redes sociais), não passam de pleitos para a administração do Estado burguês. Nada mais do que isso. Um candidato, por mais orgânico e unido à base social, deixa de fazer parte de sua classe ao entrar na burocracia estatal. É claro que as políticas de um governo nos afetam, é claro que um governo pode ser benéfico ou prejudicial e que as candidaturas se diferem, mas é a superestrutura institucional que se mantém intacta, que captura e terceiriza nossa autonomia e que deve ser alterada: só a construção de uma vanguarda popular e revolucionária será capaz de dar o real sentido “democrático” e orgânico das eleições, para que o governo sobre pessoas seja substituído pelos Conselhos sobre coisas e condução dos processos de produção (tal como escrevia Engels), superando a política pública, o assistencialismo e mesmo o reformismo. (Ainda sobre Engels, é preciso ler o importante prefácio que ele escreveu em seu ano final de vida, em 1895, no As Lutas de Classes na França, em que retoma toda sua luta com Marx – já morto há décadas – desde 1848, ano do Manifesto, avaliando que muita coisa tinha mudado e que tanto o direito ao voto universal quanto a campanha eleitoral eram importantes armas para a classe trabalhadora e para os socialistas, desde que não fossem fins.)
– Jair Bolsonaro não é “líder” de coisa alguma, Jair Bolsonaro não é nem mesmo um fenômeno de massas, conforme os resultados nos mostraram explicitamente. Foi dizimado. Ele perdeu feio, como, aliás, já perdeu em todos os seus apoios internacionais. Todos os seus candidatos derreteram, não arrancaram, perderam, quiseram escondê-lo da campanha, evitaram seu tom estúpido e boçal de extrema-direitalha. Um vexame. Tornou-se o tóxico dos tóxicos, o maior pé-frio do país. Envergonhado, teve de apagar uma postagem em que recomendava uma lista de candidatos. (Em SP, ele perdeu definitivamente, qualquer que seja o resultado do segundo turno para a prefeitura. O RJ é um caso à parte, deplorável, e merece uma profunda refundação que mitigue o evangelofascismo e o milicianato.)
– Além do continuísmo comedido, o grande vencedor quantitativo destas eleições foi o Centrão – DEM (26 cidades)/MDB (23 cidades)/PP (7 cidades) -, sobretudo na figura do DEM. O que é o Centrão? É uma direita sem ideologia, sem convicção, boa parte da qual apoiou – principalmente no Congresso – FHC, Lula, Dilma, Temer e agora Bolsonaro, sempre à procura de cargos e emendas, por isso é chamado de “fisiologista”, e só busca se manter na burocracia. Já domina a maior fatia da política brasileira e é decisivo para um governo continuar ou não. É um problema presente e para os próximos anos a ser resolvido para quem reivindica a grande política e deseja grandes transformações.
– O PT – que tem maioria de deputados federais -, mesmo sendo o partido com maior número de candidatos para o segundo turno (disputa 15 de 57 cidades, e venceu 178 cidades), desapareceu bastante do cenário municipal geral se compararmos com eleições anteriores a 2018 e 2016, ao mesmo tempo em que o PSOL se projetou em capitais e ganhou fôlego nas demais cidades de médio e grande porte. Na minha cidade natal, Santos, o candidato do PSOL passou o Partido “Velho” e outras velharias, até o MDB, isto é, com uma campanha mísera, ultrapassou empresários que colocaram muito dinheiro em suas campanhas. Em Santos, o PT – cuja geração é mais de esquerda e mais próxima da base social do que o PT de outras regiões do país – também surpreendeu e, mesmo diante do antipetismo, conseguiu o terceiro lugar com um candidato negro. Em São Paulo, porém, diante da chapa Boulos/Erundina, o PT foi fim de festa. Ainda é um partido forte, mas só tem conquistado os grotões. O que explica o desaparecimento generalizado do PT e a projeção populacional do PSOL? Não cabe apenas a justificativa da insistência midiática da “polarização” entre Lula e Bolsonaro, embora ela também conte. O resultado parece contraditório, já que o PSOL é ainda excessivamente pequeno-burguês, enquanto o PT tinha logrado ser um partido de massas. Não preciso citar os traumas pelos quais o partido passou nos últimos anos, que foram decisivos para alguma derrocada e declínio de projeto nacional. Trata-se da necessidade de uma radicalização diante de sistemas falidos e insatisfatórios – e de saber quem melhor desempenhará tal radicalidade, não uma radicalidade vulgar (extrema-direita), mas consistente e o mais orgânica possível de acordo com os anseios de transformação da população. É que, na ideologia, nos discursos e no programa partidário, a realidade se inverte: o PT desempenhou nos últimos anos um falseamento da representação cidadã, possui uma cúpula eleitoreira (que deveria ser expulsa pela militância socialista, fosse esta consciente e alfabetizada na teoria), se acoplou ou formou resquícios do “coronelismo” no Nordeste, possui no sudeste uma forte ala jurídica, excessivamente entranhada no sistema de Brasília, e só os seus nomes mais orgânicos e próximos da base social, que não se deixaram levar por alianças e conchavos, é que ganharam alguma confiança, enquanto o PSOL recupera a “pureza” do início do PT e construiu a imagem de partido “combativo”, “coeso” na hora de votar no parlamento, “raiz”, que não se dobra à direita e nem dá as mãos para a centro-direita, é tido pela mídia como “radical” , ainda que, na verdade, preserve a propriedade privada dos meios de produção e, pelo que tenho notado, em nada tem mostrado que irá se diferenciar estruturalmente do PT para além de política pública e programas sociais. Outro motivo, dessa vez geracional: o PSOL é constituído por uma juventude – que cresceu nos governos do PT  – disposta a mudar séculos de status quo, enquanto os “caciques” do PT são ainda a geração que, tendo derrotado a ditadura, manteve-se conciliatória e ingênua em relação à Constituição liberal de 1988.
– Houve uma explosão bem-sucedida para a vereança e prefeitura de negros, feministas, indígenas (ao menos 10 cidades), LGBTQIs, etc. É reflexo da sociedade brasileira, que começa amplamente a incluir a maioria, que paradoxalmente são os excluídos. É preciso, no entanto, senso crítico: incluí-los onde e como? O debate sobre o “identitarismo” é menos importante do que o debate sobre os limites institucionais e sobre a igualdade socioeconômica, o verdadeiro objetivo comunista. A representatividade por si só envolve uma cooptação do mercado, e nada mais. A revolução pode estar no gênero e no sexo e na cor de pele e na etnia, mas está sobretudo na classe social, na contradição das lutas de classes e na organização e solidariedade de classe. Eis um dos grandes legados do marxismo: a centralidade da categoria trabalho, que envolve todo o povo pela emancipação. Trata-se de elucidar que o capitalista é que continua sendo o heteronormativo, eurocêntrico ou estadounidocêntrico, branco, monoteísta, etc., que é do capital que surge a reprodução das mazelas estruturais e ideológicas, daí a necessidade de soldagem e unidade de classes em torno da teoria revolucionária.
– O número de brancos, nulos e de abstenções (este último por conta dos cuidados da pandemia), que tem sido crescente ao longo dos anos, foi expressivo em todo o país, tendo ultrapassado, em diversas cidades, a quantidade dos eleitos,  e merece –  merecem sobretudo os votos brancos e nulos, em que as pessoas, ao contrário das abstenções, saem de casa só para apertar tais teclas – uma pesquisa própria, séria, aprofundada, para que saibamos os motivos principais desse fenômeno, os matizes, as faixas etárias e as classes sociais. Existem alguns motivos já muito falados – a insatisfação com a política estrito senso, justificável por causa do excesso da “pequena política” de que falava Gramsci, e também por conta do acúmulo excessivo de notícias negativas, o niilismo antipolítico, etc. etc. etc. Trata-se de saber como resgatar esses cidadãos para uma construção transformadora, fora do “mais do mesmo”.

Jair Bolsonaro não pode disputar as eleições de 2022

Como podem associar Bolsonaro a 2022?! Tenho lido algumas dezenas de comentários, no rastro da eleição dos EUA que retirou o mafioso Donald Trump (que não aceita sair), associando Jair Bolsonaro à hipotética eleição presidencial de 2022 no Brasil. Para mim, é sintoma de esquerda que padece de fraqueza, depois de tanto traumas, em eterna “resistência” aos descalabros da direitalha e sem colocar as suas cartas na mesa, sem mobilização, e de cúpulas eleitoreiras! Bolsonaro não merece e não pode disputar mais eleições nem completar mandato, tem de ser derrotado já ano que vem. Esta deve ser a agenda da esquerda, considerando seus pontos fracos:
 
1) Ele não consegue emplacar nenhum candidato nestas eleições municipais de 2020, ao contrário, derreteram ou nem decolaram e tiraram ele da campanha, porque é tóxico. Povo não é bobo, não quer replicar o desleixo federal criminoso no âmbito municipal, sobretudo o desleixo na Saúde em momento de pandemia.
 
2) Sem Trump, para quem não passava de capacho, Bolsonaro se consolida como um zumbi internacional. Quem será aliado de seu obscurantismo diplomático terraplanista?
 
3) Seu filho mais velho está encurralado pela justiça. Queiroz era amigão do pai quando Flávio Bolsonaro nem tinha nascido, ou seja, está metido junto… É muita bandidagem. Além de peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa, há a sórdida relação dessa família inteira – família estranhíssima – com milicianos assassinos do RJ, alguns deles diretamente envolvidos no assassinato de Marielle… Vai chegar em Bolsonaro ou tem de chegar, ou pelo menos o mancha.
 
4) Ademais, é um desgoverno ruim, fraco, incompetente e absurdo, que não fez nada que preste e nem vai fazer. Sem auxílio emergencial, a rejeição aumenta. Os sinistros Guedes e Salles sempre por um fio… Mais de 50 pedidos de impeachment na mesa de um liberal meio conservador Rodrigo Maia (crítico do desgoverno, porém amigo das contrarreformas), processo de cassação da chapa a ser discutido no TSE (uma via melhor do que o impeachment, porque Mourão, embora aparentemente mais maleável, é grau 33 da Maçonaria, apesar da cassação poder levar à eleição indireta)… É verdade que a esquerda não pode virar “gado” do judiciário burguês (a importância de Pachukanis), mas estes são elementos que complementam o jogo conjuntural de forças a respeito de um projeto de país e outro rumo.