Alguém (uma seguidora) me chamou de “assustador” (sic) pelo fato de ter lançado luz a um garoto (provavelmente ele não viverá outra chance invulgar feito essa), quando me disse que trabalha no McDonald’s, mas não soube me responder quem eram seus patrões, fornecendo apenas o nome da gerente, ao que respondi, não com a esperança de mudar o sistema (este, sim, assustador!) num simples chat feito para terceiras intenções, talvez, sim, por que não?, a “militar” ali a ponto de despertar consciências de classes na juventude ingênua, mas sobretudo com doses de cansaço (em meio à futilidade), conformado pedantismo, picardia à lá Lorde Henry e inconformismo (anotei o que enviei, e ora reproduzo abaixo, para utilizar posteriormente num romance revolucionário):
“Como não sabe?! É a empresa que você trabalha! Há um “CEO” identificável, com fotos e entrevistas e holofotes na mídia, há uma Board of Directors com engravatados num arranha-céu dos EUA, o qual você e demais jovens do precariado jamais conhecerão, mas tampouco estes são os verdadeiros donos: fantoches. Os proprietários são acionistas anônimos da “bolsa de valores”. Aliás, a própria gerente, que você trata feito patroa, é meramente dona de uma franquia vinculada a um oligopólio multinacional (que sequer paga taxas decentes ao Brasil, se é que paga alguma), portanto não se trata de negócio próprio dela, o que a faz também classe trabalhadora como você, apesar da diferença de aparência, renda e bens, que, por si só, não constituem critérios definitivos para definir classe social. Também ela produz capital para acionistas anônimos, também ela é despossuída dos meios de produção, embora deva se sentir da “classe média” (pequena-burguesia) ou até “elite” (burguesia). Não é, e o mecanismo foi hábil ao longo dos séculos em separar e criar divisões dentro duma mesma classe, impedindo a solidariedade de classe entre vocês. Imagine, então, milhares de jovens como você e milhares de gerentes e responsáveis de franquias como ela espalhados pelos quatro cantos do globo, trabalhando duro e ganhando pouco para lucrar e enriquecer especuladores anônimos, milionários, bilionários, que, por sua vez, a fim de manter suas fortunas criminosas, sequer precisam chegar perto de vocês com ordens, pois vocês já as automatizaram e normalizaram em seus cérebros e ideologias, durante o tempo que gastam, por falta de melhor opção socioeconômica, em seus ambientes autocráticos de trabalho, tampouco eles precisam chegar perto das máquinas de fazer isopor, que vocês chamam de comida… Distópico, e ainda chamam isso de trabalho, emprego, democracia.”
O garoto me excluiu.
Carácoles!