Aqui no hotel do Rio, de repente me bateu forte angústia. Afinal, o que são os hotéis senão um simulacro da própria vida?! Passagens e deixares constantes sem muitas razões ou motivos… Pensei em escrever, em transmutar em arte ou palavras, mas não saiu nada. Fundo do poço existencial. “Tampa no esforço imaginativo”, escreveu Álvaro de Campos. Súbita, uma tristeza… Foi quando surgiu da rua a voz de um vendedor ambulante absolutamente simpático falando em alto e bom som:
Olha, a minha rosca tá pegando fogo…
Olha, paga três reais pra comer minha rosca…
Gente, a minha rosca é docinha…
Um anjo que passou pela minha tarde e me fez rir.
[12 de julho de 2017]