Capitalismo Sem Rivais – O Futuro do Sistema Que Domina o Mundo, lançado em 2020 (ano passado), é outro livro antirrevolucionário (no texto anterior, que merece ser lido, demoli Hayek), e este tem a decência ética de reconhecer a desigualdade no capitalismo. É fraquinho, mas devemos saber o que não-marxistas tentam pensar, e é fácil provar que não é nada de fecundo.
Duas ideias são oferecidas: “capitalismo meritocrático e liberal” (que nomezinho!) e “capitalismo político” (?!). O primeiro pretende se referir aos EUA; o segundo, à China. Não me aprofundarei no papel do complexo industrial-militar nem no fato de que o Estado capitalista dos EUA subsidia as empresas tal como o apoio do governo chinês às empresas da China. E lhe falta o básico sobre a teoria do Estado e sua história superestrutural a partir da estrutura!
O central está no último capítulo, denominado “Futuro do capitalismo global”. Após apresentar o capitalismo contemporâneo como “amoral” por impor a forma mercadoria a quase tudo (ao menos isto!), Branko Milanović (que já deu entrevista ao programa brasileiro Roda Viva da TV Cultura) pergunta se há um sistema que possa substituí-lo. A sua resposta é thatcherista: “o problema com tal avaliação sensata é que não há uma alternativa viável para o capitalismo hiper mercantilizado”. Sua justificação: a) “as alternativas criadas no mundo se mostraram piores – algumas delas muito piores”; b) “não se pode ter a esperança de manter tudo isso” – ou seja, os “bens e serviços que se tornaram parte integral de nossas vidas” – “destruindo o espírito aquisitivo ou eliminando a acumulação de riqueza como a única forma de sucesso”.
No primeiro pseudoargumento, toma as experiências dos “socialismos reais” como definitivas, sendo que no mesmo livro as considera infiéis ao pensamento de Marx! E lhe falta antropologia política para afirmar categoricamente que são “piores”! Acertadamente, viu que não alcançaram o socialismo – eram sociedades atrasadas que alçaram-se no caminho do desenvolvimento capitalista. (Para este aspecto, é importante conferir a teoria do elo mais fraco, elaborada por Lênin.) Porém, é falácia (i)lógica presumir que eventos de ontem eliminam eventos de amanhã.
A segunda conclusão requenta a perversa pseudotese de Fukuyama com utilitarismo e pragmatismo ainda mais burgueses. O próprio Fukuyama já se desfez dela, conforme lemos na imprensa! O cínico Milanović saúda o egoísmo como um traço desejável da “natureza humana”. Puro idealismo. Deve ter achado isso depois de liderar pesquisa no Banco Mundial…
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