A direita vive acusando a esquerda de ser perdulária, mas deveria se perguntar por que só elege quadros demagogos, desastrosos, não-orgânicos e irracionais. Como ela jamais entrará nessa discussão, cabe à esquerda encontrar a resposta e apresentar à nação, e uma das respostas fundamentais não será outra senão o fato de que, para a plutocracia implantar medidas econômicas que concentram o capital e o poder num país de brutais desigualdades como o Brasil sem que haja uma violenta recusa da população como um todo, só mesmo se utilizando de espantalhos…
A direita, em qualquer lugar do mundo, será sempre menos inteligente (e a direita ilustrada cai sempre na mistificação), porque precisa conservar privilégios e status quo, ou seja, se mantém fixa e linear, enquanto para a esquerda coube estudar para transformar a realidade… Só deseja transformar a realidade aquele que adota uma posição crítica e investiga as causas da realidade ser o que é.
A direita esconde, despreza ou ignora as causas dos problemas.
No jogo político do Brasil, a direita agrava os problemas.
A direita explícita só causou desastres no Brasil. Não só nas ditaduras – estas levaram o direitismo às raias do absurdo. Falo em âmbito eleitoral sob a democracia liberal burguesa: nos deu o doido do Jânio Quadros, após Vargas e Juscelino, nos anos 1960, “vassourinha contra a corrupção”, que tinha pautas conversadoras contra os costumes e renunciou em menos de 1 ano de governo, atirando o país numa longa crise política e instabilidade que, com vários outros motivos, ajudou o golpe de 64 contra João Goulart; o neoliberal e intransigente Fernando Collor na redemocratização, que em dezembro de 2018 desancou a política externa bolsonarista/olavista, mas que, na época, finais dos anos 1980, início dos 1990, era o “caçador de marajás”, contra os “vermelhos” (sim, igualzinho o Bolsonaro, como seus discursos e o último debate contra Lula atestam – embora Collor trouxesse um quê de “modernidade” comportamental e econômica, não de obscurantismo e fundamentalismo religioso armado, como Bolsonaro), contra a “baderna”, a “bagunça”, ostentando a bandeira verde-e-amarela, mas que piorou muito a economia e trouxe à tona diversos casos escabrosos que o envolviam, (o moderado e democrata de centro-direita Fernando Henrique Cardoso, que colocou o mercado acima de qualquer interesse nacional – este é uma exceção em meio a tanto exotismo e desastre, mas quantos tão polidos assim não estiveram agora com a escritidão criminosa de Bolsonaro?); e, agora, após 2 anos do golpeachment, da ilegitimidade política e da austeridade econômica de Temer, com o perdedor e golpista PSDB de FHC, que destituíram Dilma Rousseff, e a Lava Jato superficial que prendeu Lula (com todos os acertos e erros, a maior liderança da esquerda), o extremista-mor Jair Bolsonaro, patriota de araque, entreguista, manipulador, mentiroso compulsivo, absolutamente sociopático e inconsequente, exibindo diariamente seu comportamento fascistóide, no nível da perseguição de opositores em todos os setores da sociedade, com ministros absurdos, anacrônicos, incompetentes em relação à gestão da máquina pública, às necessidades do povo brasileiro e à política de Estado.
Toda a direita apoiou este lixo, gerando consequências gravíssimas em todos os setores. Mesmo aquela direita que depois tenta se disassociar, e que jamais fará uma autocrítica na mídia hegemônica paga por grandes empresas e bancos, deu apoio integral. De Abílio Diniz, passando pelo CEO do Itaú ou o Paulo Lemann até um desqualificado como o dono da Havan.
Assim como haviam aqueles que preferiam se associar à figura de Sérgio Moro, que diante da máscara indolente é também um extremista judicialesco, a elite se afasta de Bolsonaro e apoia apenas este Bolsonaro com Phd chamado Paulo Guedes, serviçal do capitalismo financeiro… Não se enganem. Assim como em O Retrato de Dorian Gray, em que o retrato demonstra todos os vícios e horrores que a aparência do rosto esconde, Bolsonaro é a cara da desprezível, aporofóbica, ruim, racista elite brasileira sem máscaras.
Treze eleições livres no Brasil, desde 1945. Dez presidentes eleitos (porque 3 foram reeleitos). O campo mais à direita elegeu quatro deles. Todos eles, outsiders. O único que foi até o fim do mandato foi Fernando Henrique Cardoso, que na verdade estava à centro-direita e tinha conseguido, junto com o MDB, convencer a direita de que podia dispensar a ditadura e disputar o jogo político.
Os outros três – Jânio, Collor, Bolsonaro – eram outsiders bem mais out do que FHC. Figuras um tanto exóticas, que somente se elegeram por estarmos em crise, por terem um discurso fortemente populista, por estourarem a política tradicional.
Nunca a direita emplacou um quadro seu, orgânico, na presidência da República, em eleições democráticas.
Só os não orgânicos.
Daí uma fragilidade. Os três de quem falei são ou foram voluntariosos, no limite do arbitrário:
– Jânio, moralista dos costumes, interferindo nas roupas de desfile de miss…
– Collor discursando, na posse, que agora era “vencer ou vencer”, dando um golpe fatal de judô na inflação (conseguiu o oposto, sobretudo saqueando poupança dos trabalhadores).
– Bolsonaro constantemente ameaçando tudo e todos para proteger sua familícia.
Difícil, assim, chegar a um consenso.
Aprendi, primeiro lendo e depois conversando com gente influente, que o governo precisa estar bem com cerca de 100 a 200 personagens importantes, desde os dirigentes do Congresso e de suas principais comissões, os dos tribunais superiores, os das agências reguladoras, os donos do PIB, a grande mídia, talvez sindicatos e movimentos sociais.
O entendimento com todos esses protagonistas é tão importante quanto o “presidencialismo de coalizão”, que na verdade se refere apenas às duas Casas do Congresso. (Não vamos, neste texto, considerar o direitismo no Congresso, centro do poderio oligárquico brasileiro! Deixo isso para outra ocasião.)
Ameaçando uns e cedendo mansamente a outros, não se vai governar o País. (Vejam a importância deste fato até mesmo para nós, de esquerda e extrema-esquerda!)
A direita desgoverna.
Chegamos a um ponto em que não podemos mais chamar a direita de direita, mas de direitalha.
23 de maio de 2020