Não se pode deixar de afirmar e insistir que os EUA, o “big and better, wiser and perfect brother of the North”, são uma distopia escancarada, sem precisarmos adentrar no submundo do background, a começar pelo que haveria de mais superficial e explícito nessa discussão a respeito de uma típica “sociedade do espetáculo”, que deixou de ser “império da produção” para tornar-se um “império do consumo” no momento histórico mesmo em que a China é um bebê da produção capitalista: o seu próprio sistema político encabeçado por apenas dois partidos, partidos de magnatas dinásticos que, cada um a seu modo, servem ao complexo industrial-militar (cf. Gore Vidal). Partidos demais fazem mal à promessa de democracia, também servem a politiqueiros sem princípios ideológicos e à alienação eleitoreira (vide o caso do famigerado “Centrão”), porém o bipartidarismo impede qualquer pulverização de forças políticas reais e populares. Socialistas no Partido Democrata foram extirpados já nos intensos anos 1960s e 1970s, restando um velho Bernie Sander, que é sensacional na retórica contra Wall Street, mas que não passa de retórica; o partido comunista dos Panteras Negras sequer vingou… E a desgraça consiste justamente no fato de que o hegemonismo capitalista dos EUA respingou a distopia da especulação e dos espaços laborais antidemocráticos e autocráticos para o resto do mundo, ao que eu pergunto a um belo garoto, delicado e feminino, em São Paulo, trabalhando no McDonald’s (fora do estabelecimento, em outra circunstância, pois não entro mais e não como isopor maquinado), quem são os donos, e ele (que sequer “chuta” falar o nome do CEO que está em holofote na mídia ou a Board of Directors que se encontra num arranha-céu dos EUA) me dizer o nome de sua gerente, que ele avista todo dia, ou seja, mal sabe de acionistas anônimos, milionários e bilionários, lucrando alhures com o suor precarizado de milhares de jovens como ele a partir das franquias multinacionais de milhares de gerentes nos quatro cantos do planeta sem precisarem sequer chegar perto da porcaria venenosa que chamam de comida rápida. Mais distópico do que isso, nem a Coreia do Norte!