Quanto ao Projeto de Lei 2630, o “PL das Fakenews”, sou a favor de que seja mais enxuto para concentrar-se precisamente na regulação das redes antissociais, que têm lucrado e protegido disseminação de notícias falsas da extrema-direitalha e seu financiamento escuso, negacionismo, planejamento de ataques a escolas e crimes de preconceitos e ódio, porém sou contra e crítico ao artigo 32, inserido ali tardiamente por pressões alheias e que precisa ser retirado, pois destinaria recursos da publicidade para a velha mídia empresarial familiar, a mesma que dissemina ideologia neoliberal ao povo trabalhador, mas não desgruda das verbas concessionárias do Estado (i.e., dos contribuintes), independentemente do governo de ocasião. O termo ali justificado, “jornalismo profissional”, é vago e vazio, pois jornalistas independentes e alternativos nas redes não são menos profissionais do que os das emissoras televisivas e mídia tradicional.
Conforme o jornalista Paulo Henrique Amorim (1942-2019) explicou anos atrás em evento gravado (“PHA conta como a Google está matando a Globo“), essa mesma mídia profissional, há muito chamada de “o quarto poder”, se viu numa crise de hegemonia e de economia sem precedentes nas últimas décadas com a expansão mundial e monstruosa das “big tecs”, que, aliás, verdade seja dita, mais recentemente têm se mostrado explicitamente irresponsáveis, lenientes, até condescendentes com as intenções da extrema-direitalha no mundo. (Aliás, Amorim é exemplar neste campo, pois acompanhou de perto tal transição, transitou de um polo a outro em sua carreira, tendo sido repórter internacional da emissora da família Marinho por muitos anos, além de outras, e terminando como jornalista independente com canal próprio nas redes, o “Conversa Afiada”, crítico, corajoso e impenitentemente à esquerda.) Para resumir o novo processo, típico deste século, capitalistas comerciais e empresariais no geral pagam aos capitalistas bilionários das grandes empresas de redes antissociais menos por seus anúncios incessantes, e que nos atingem feito alvos certeiros de acordo com algoritmos e com nossos rastros virtuais pessoais capturados em bancos de dados consumistas, do que subordinados a tempos fixos diante de público disperso demais da TV e meios tradicionais, que, ademais, já entraram num franco declínio em receita, audiência, credibilidade etc. Ou seja, há uma disputa econômica (elementos de lutas de classes) e de narrativa hegemônica (em termos de Gramsci, mesmo) entre a classe dominante, nacional e externa…
Tais interesses estruturais, que são o que realmente importa à conscientização, continuam desapercebidos pela manipulação das discussões políticas do senso comum e se manifestam nos bastidores do lobby por trás do mise-en-scène superestrutural da arena parlamentar no Congresso Federal…