A frase do Emicida — “esses boy conhece Marx, nóis conhece a fome” — é falsa. Como ele não passa mais fome, é também uma frase preguiçosa de quem não quer estudar e aprender o porquê das coisas serem como são, de quem não tem brio para aprender o que os “boy” sabem. Tenho alunos proletários e até subproletários… A perifa tem de aprender também, nem que seja para cuspir. Apesar de retratar a distância real e problemática entre intelectuais revolucionários e povo, é falsa e superticial principalmente porque NÃO BASTA CONHECER A FOME. Tem gente com fome capaz de votar em Bolsonaro desde que ele dê umas esmolas. Tem gente com fome que, mais tarde, sem fome, apoia a direita, porque ganhou uns direitinhos a mais ou uma vida menos pior. Daí a importância da teoria e de Marx. Ou seja, nada de ideologicamente transformador passou por aquela consciência, apesar do material. A elite quer exatamente que conheçamos só a fome, mais nada, e que desprezemos Marx, Lênin, Gramsci, Rosa Luxemburgo, Marighella, Florestan Fernandes, Caio Prado Júnior et al.
Minha paixão pela teoria deu-se justamente pela empatia com o povo e os trabalhadores e por minha própria condição socioeconômica. Qualquer senhor de escravizados e qualquer patrão de empregados precisam de jovens, homens e mulheres bem alimentados para a roda da acumulação e da exploração continuar girando – e que justamente conheçam o horror da fome para, temendo sentir fome de novo, evitem-na rendendo-se à espoliação da ditadura do capital. Quando, na realidade, o que importa são os apetites que existem após se matar a fome! A frase da canção do Titãs é mais sábia: “A gente não quer só comida…” Quando, na realidade, o que importa é saber como solucionar de vez a fome! A frase de Tupak dita numa entrevista, diante do absurdo: “Eles conseguem dinheiro para a guerra, mas não conseguem acabar com a pobreza.” Os capitalistas tremem diante da teoria revolucionária! Portanto, é preciso conhecer Marx e vários outros, sim, senhor, para saber, por exemplo, o que é lúmpen; para sair da mera fenomenologia e saber por que se passa fome; para romper o círculo vicioso; para se conscientizar e mudar o sistema capitalista que gera fome de um lado e fartura do outro, etc. etc. etc.
7 de outubro de 2020
Mas onde está Marx quando a gente está com fome?
Além disso, qualquer pessoa inteligente saberia do se trata essa metáfora e não é só literal.
Nao foi messe sentido não, Professor.
Há de considerar a fortíssima presença da pequena-burguesia nos partidos comunistas e na esquerda revolucionária.
Ou seja, “Os boy” tem ideia exógena sobre exploração, enquanto a periferia vivencia na prática o que os trabalhadores passam no capitalismo…
E essa desculpa esfarrapada que Emicida não passa mais fome não retira sua história de periferia…
Quem mandou o movimento revolucionario brasileiro ser exageradamente pequeno-burguês, com um linguajar intransponível aos trabalhadores?
Chore menos e vão mais às periferias…
Teu comentário também contém equívocos e inversões. Não se trata de linguajar — isto é preconceito ultrapassado, ou seja, supor que o repertório complexo precisaria ser rebaixado ao “populacho” ou detido apenas por uma elite, já que camadas do povo trabalhador estão estatisticamente cada vez mais presentes nas universidades. Eu mesmo não faço, no momento, parte da academia. Tem muito mais a ver com a enorme desvantagem dos meios de divulgação e expressão críticas com relação a meios hegemônicos do status quo alienante. Por fim, não se justifica, nos dias de hoje, não ler autores críticos e revolucionários (em grupos ou de maneira independente) com base meramente em geografia ou partidos.