O principal papel da escola é a socialização formadora, isto é, formar pessoas e ensinar a viver em sociedade. É claro que os professores, na escola, ensinam conteúdos intelectuais (ou competências, segundo nomenclatura mais recente), mas o pilar da escola é a socialização.
Deu-se quase sempre enfoque nas capacidades cognitivas, mas se esqueceu das capacidades emocionais. Não se percebia que ambas andam juntas, e o mal desenvolvimento de uma capacidade compromete a outra.
Lidar com emoções, saber se relacionar com o próximo e haver conscientização na tomada de decisões fazem parte do nosso dia a dia – e da capacidade socioemocional.
Hoje, com a formação integral, puxada dos gregos antigos e sua Paideia, o desenvolvimento das competências socioemocionais é até exigência legal, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Conforme estabelece o BNCC, o aspecto social e emocional envolve empatia, diálogo, responsabilidade, resolução de conflitos, cooperação.
Portanto, veremos, neste presente texto, sugestões e breve descrição de algumas técnicas reconhecidas internacionalmente e pensadas por (e para) profissionais da área da educação e alunos.
DESENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIONAL E SOCIOECONOMIA
Grande parte de certos males emocionais, tais como ansiedade, solidão, depressão e estresse, que acometem cada vez mais jovens, anda ao lado da falta de projetos sociais e coletivos. O ser social que não está inserido nem incluído tende a achar que está sozinho. O sistema de ensino deve nos tirar da dependência, do subdesenvolvimento e dos atrasos.
Assim, o desenvolvimento socioemocional é incompatível com um ensino totalmente técnico, que geralmente põe no horizonte do ser social um trabalho desqualificado, sem valores, mecânico, repetitivo e sem criatividade.
A CRIATIVIDADE
Qualquer exercício que vise, antes, inspirar e, depois, deixar livre a criatividade é, por si só, quando desempenhado com qualidade e propósito, um propulsor de desenvolvimento socioemocional.
Simplesmente porque, através da criatividade, é possível expressar emoções.
A criatividade é ferramenta sobre a qual se desenvolve o florescimento humano.
TRABALHOS EM EQUIPE
Trabalhos em equipe são fundamentais para o relacionamento interpessoal, cooperação, respeito, resolução de conflitos, escuta e fala, empatia e exercício da responsabilidade.
ARTES
As grandes artes, um quadro, filme, uma música ou a literatura, são impregnadas de valores, pensamento crítico e são portas para se debater sobre preconceitos, bullying, retratos sociais, etc.
PEDAGOGIA AFETIVA
Durante muito tempo, a relação professor-aluno e o próprio ambiente escolar foram encarados de maneira absolutamente formal e até hierárquico.
Esse tipo de abordagem está cada vez mais defasado nas escolas-modelo para o desenvolvimento intelectual e também emocional.
É preciso se pensar numa pedagogia afetiva construída diariamente, que faça com que as capacidades cognitivas sejam trabalhadas em conjunto com as capacidades emocionais.
PANDEMIA
A volta às aulas no contexto da pandemia – e mesmo as aulas momentaneamente à distância – precisa falar francamente sobre traumas, impressões, limpar o horror, recriar os laços para que, juntos, possamos superar. Aliás, isto vale para qualquer outro espaço adulto além da escola.
Um dos marcos do desenvolvimento socioemocional reside na identificação ou comunhão com o(s) outro(s). Dessa forma, a escola é espaço formador das capacidades cognitivas, como levar em conta os fatos e considerar evidências científicas, e também das capacidades emocionais, tal como mostrar compaixão, etc.
SUGESTÃO DE DINÂMICA
Se o intuito é começar a falar sobre problemas e traumas, há uma boa dinâmica para “quebrar o gelo” e criar ambiente de acolhimento.
Alguém – pode ser a própria professora – faz algum relato ou fala sobre alguma angústia ou tristeza que sente. Quem se identificar, fala “eu também”, e assim por diante.
Qualquer preconceito ou julgamento é suspendido quando há profunda compreensão das condições do(s) outro(s).
Quanto mais íntimo e pessoal é um caso, mais geral, coletivo e até universal ele é.
A TEORIA/METODOLOGIA DOS “BIG FIVE” (CINCO GRANDES FATORES)
Utilizada muitas vezes no setor de RH, a metodologia dos Cinco Grandes Fatores considera variados traços de personalidade das pessoas e tem sido aplicada para o desenvolvimento das habilidades socioemocionais de alunos.
Os tais cinco fatores são: abertura a novas experiências; conscienciosidade; extroversão; neuroticismo; simpatia ou agradabilidade.
Como aplicar os cinco fatores? A metodologia tem sido eficaz para avaliar por competência, descobrir desenvolvimento de talentos, selecionar para determinadas tarefas, etc. A compreensão desses cinco fatores pode potencializar a junção entre habilidades técnicas e habilidades emocionais.
É de suma importância que o professor conheça seus alunos e os inspire a desenvolver seus lados fracos e fortes.
O SOCIODRAMA
O sociodrama, variação do psicodrama, é outra técnica bem aplicada, pois tem se mostrado eficaz para o desenvolvimento da habilidade socioemocional “conscienciosidade”.
Trata-se duma peça dramática em que todos desempenham papéis para estudar melhor e remediar problemas em grupos ou relações coletivas.
O sociodrama pode ser aplicado a muitas situações: traumas coletivos, eventos atuais, problemas sociais, desintegração, preconceito, tensão interpessoal, reabilitação, etc.
Define-se um tema preemente a todos; a decisão sobre os papéis precisa ser sociométrica; abre-se, antes, durante e depois, o tema à discussão do grupo, se possível junto aos pais e outros agentes da sociedade; anotar e discutir conclusões, conquistas, passos alcançados, etc.
6 de outubro de 2021
REFERÊNCIAS
Antonia Benedita Teixeira, ‘Habilidades Socioemocionais na Educação’. Editora Appris, 2020.