Dia triste. Abre-se um novo capítulo, com certezas e incertezas. Se ontem sentia-se o cheiro de impeachment por tantos crimes, hoje tudo se torna mais complicado.
Bolsonaro fará uma “reforma ministerial” para acomodar o Centrão em cargos fartos da alta burocracia federal, depois de torrar nosso dinheiro com emendas parlamentares bilionárias (cerca de R$3 bilhões, mais meio milhão de reais a véspera da eleição, em plena crise e pandemia) para comprar a velharia do Congresso. O Centrão lhe dará ainda mais musculatura, mesmo sendo este o DESgoverno mais inepto e tendo já nos isolado do resto do mundo. Quem quer mudar o Brasil, precisa entender que Lula (que também teve de fazer uma reforma ministerial para se sustentar mais, embora tivesse equipe competente e amplo apoio popular), Dilma e qualquer outro ficou nas mãos do Centrão, portanto é preciso investigar a base social e eleitoral na sociedade brasileira desse Centrão (uma direita sem ideologia, apenas fisiologista e mamateira). Só “paredão” (Paredón) não adianta, porque esses canalhas não brotam do “nada” nem vêm de Marte. Também é preciso insistir que a direitalha, incluindo PSDB, mídia e demais partidos de centro-direita, têm um enorme dedo de responsabilidade no que estamos vivendo, porque a direita no Brasil só ganha eleição apelando (Jânio Quadros, Collor, Bolsonaro – e basta lembrar da compra de votos pela reeleição de FHC), ou seja, não teve a mínima vontade de atacar a extrema-direitalha como se deve. À esquerda, nossa crítica se deve à falta de radicalidade nas pautas, à falta de estudo da teoria marxiana e de estratégicas socialistas que contribuam para uma construção revolucionária entre o povo, que prepare a sociedade civil pela disputa da hegemonia e eventual tomada de poder. Para ajudar na investigação desse obstáculo aos avanços sociais que é o Centrão, cumpre começar o básico, ou seja, a sua faceta institucional. O Centrão, hoje, é constituído pelos seguintes partidos: PP (40 deputados), Republicanos (31), Solidariedade (14) e PTB (12), mas, dependendo da situação e de quem der mais, juntam-se a estes o PSD (36 deputados), o MDB (34), o DEM (28), o PROS (10), o Partido Social Cristão (9), o Avante (7) e o Patriota (6).
O importante é que vocês entendam que, na hora do pragmatismo, nosso problema não é porra de fascismo nenhum. É direitalha e Centrão. Esquerda que fizer pesquisa a respeito disso terá caminho para começar a mudar o cenário a médio e longo prazo.
E, por trás da direitalha e do Centrão, o capital, a estrutura. Não seriam quem são não fosse a defesa do lucro, de setores fundamentais do empresariado brasileiro, etc.
Mas o mais importante é entender o papel da classe trabalhadora e do povo-nação nisto.
Agora, vamos a uma crítica ao tal “centro democrático”, que inexiste, apesar da ingenuidade da esquerda não-revolucionária, que parece adorar ser eternamente resistente e sadomasoquista, ao invés de usar sua plataforma mais bem estruturada e solidificada para trabalhar para governar e ensinar trabalhadores a governar:
O tragicômico da situação: PT, parte do PSOL (que depois foram vencidos e tiveram de votar em Erundina), PelegodoB, PDT e PSB (o menos de esquerda de todos), ou seja, partidos de centro-esquerda ou ditos de esquerda (138 deputados) apoiaram Rossi (crítico de Bolsonaro, apoiador das contrarreformas neoliberais), crentes de que o “habilidoso” Rodrigo Maia (DEM-RJ), que não passa dum banana e conivente, conseguiria elegê-lo contra Arthur Lira (Progressistas-AL). São uns ingênuos, para dizer o mínimo e no eufemismo… A direitalha só estava fechada com Rossi para chanteagar Bolsonaro a lhes dar mais. Tão logo isso ocorreu às vésperas da eleição, eles debandaram do lado de Maia para o lado de Lira. Não há ética nenhuma, nada importa a não ser dinheiro para seus redutos eleitoreiros e cargos fartos. Basta ver quantos votos Rossi recebeu, e de quem foi… Rs… A esquerda se presta a este papel ridículo! E, se parece sonhadora demais quando se desgarra desse pragmatismo da democracia liberal burguesa, deve procurar saber por que não tem força, para além de eleições, e sim em termos de construção social gradativa e estável (tal como propõe Gramsci).
Teria sido mais digno lutarem e votarem na Erundina ou num nome próprio, forte, ainda que mediador para além da esquerda, se é que há algum.
Faz lembrar de um episódio típico que eu ainda quero escrever para uma peça, colocar em cena! É como Lula, em seu primeiro ano de governo, levando seus ministros, o banqueiro Meirelles, o empresário Furlan e o médico Palocci para irem ver como o brasileiro vive em palafitas. E daí?! Não existe conciliação de classes, sobretudo quando já nada tem a ver com nazifascismo. Meirelles fez parte do governo ilegítimo do Temer, depois do Doria, é banqueiro, enfim; Furlani, cabeça de empresário, e Palocci (homem “frio”, segundo o próprio Lula diante do juizeco Moro) voltou-se contra Lula, invenntando mentiras contra ele em delação premiada para se safar. Essa ingenuidade na esquerda só é justificável por sua fraqueza, mas deve-se justamente buscar a força popular (não a força da velharia oligárquica e burguesa) para não se incorrer mais nesses episódios ridículos, que só levam a derrotas degradantes e vexatórias !
Com Arthur Lira, que ontem tinha discurso de paz e harmonia e hoje, mesmo dizendo que governará com direita, centro e esquerda, o tom será revanchista, com mais retrocessos à vista. Com ele, como com praticamente todos os antecessores, a Câmara Federal, antes de ser a Casa do Povo, é uma câmara anecoica, surda aos verdadeiros anseios da maioria.
Quanto a Bolsonaro (enfraquecido, apesar da maior musculatura do seu DESgoverno) e seus milicos, não terão vida fácil: mês a mês o governo abrirá os cofres para saciar o Centrão, nosso dinheiro esfolado sem dó, sobretudo o dinheiro suado de milhares de brasileiros que trabalham na base da pirâmide social e que nada recebem em troca, nem sequer administram o que produzem ou lhes é ensinado a tomar os meios de produção. A tal da direita rachou. O Brasil ainda está sem projeto, sem futuro, sem emancipação, sem liderança.
Ps.: Rodrigo Pacheco (DEM-MG), apoiado por Bolsonaro e pelo PT, foi eleito no Senado Federal.
Ps.: A bandida Bia Kicis, investigada por disseminar fakenews criminosas e defender atrocidades direitistas, das poucas ferrenhas apoiadoras do DESgoverno Bolsonaro (junto à pilantra Carla Zambelli), presidirá a Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Casa, pois é ali que se decide se passa ou não um projeto de lei. Eis um dos frutos abomináveis do “toma-lá-dá-cá”.
Ps.: Li nos jornais que há imensa expectativa da bancada ruralista em passar todo tipo de retrocesso e regressão: liberação de mais agrotóxicos, revisão dos processos de demarcação de terras indígenas, flexibilização do licenciamento ambiental e a regularização fundiária na Amazônia, etc. O que é o inferno de Dante perto disto?!
É degradante ser apenas resistente pelos tempos que virão. É preciso mais, é preciso pôr tudo isso abaixo! Não tenho carro nem sei andar de bicicletas para participar das carreatas em pandemia (as quais apoio e incentivo), mas tão logo houver imunização geral, é rua para mobilização popular, no mínimo.