Anotação sobre o momento atual do mundo… (ação militar russa na Ucrânia)

Interesses de classes não comportam maniqueísmos… E a sobrevivência é o único valor em situações-limite, sobretudo as causadas pela indústria bélica capitalista a levar sofrimento e mortes aos povos…

A Europa Ocidental — incluindo seus partidos de esquerda — anunciam sanções, bloqueios e até expropriações de oligarcas russos frente à agressão russa à Ucrânia; por que não fazem o mesmo com magnatas dos EUA quando este país invade e agride tantos outros em busca de petróleo e desestabilização geral? É a hipocrisia. Porque europeus — que gladiam entre si há milênios –, sejam de esquerda ou de direita, temem ser pegos no conflito, que se avizinha, enquanto que os outros casos, tão terríveis e mais, ocorrem longe de suas zonas hegemônicas de conforto, no Oriente Médio e alhures, então pouco lhes importa… No caso dos EUA, nem é preciso pensar muito acerca do que mantém sua sociedade sob o complexo industrial-militar.

(Ps.: Um dia após eu escrever isto, vejo pelas redes este vídeo de compilação chocante que confirmou minha afirmação: não faltaram “jornalistas” europeus e dos EUA a dizer pelas TVs, com racismo escancarado, que essa guerra lhes impactava por não se tratar de Síria ou Afganistão, mas de país “europeu”, “civilizado”, com civis fugindo em carros iguais aos deles e de “olhos azuis” morrendo, etc.)

Alemanha (ali bem perto), França, Holanda resolverem ajudar militarmente a fraca Ucrânia, que tenta ingressar na União Europeia, cristaliza esse quadro. Conforme os jornais noticiam, o governo da Ucrânia, num ato de insanidade, empurra civis contra o Exército daqueles cujos antepassados um dia já derrotaram Napoleão e Hitler, armando e incentivando a preparem coquetéis molotov (!), proibindo a saída de homens entre 18 e 60 anos, e seu presidente, um ex-comediante antipolítico que fez vídeo nada engraçado antes das eleições fuzilando parlamentares, falhada, até agora, a concessão à OTAN, mente pelas redes em tentativa de encorajar incautos, quando é óbvio que ou está de malas feitas ou próximo a ceder aos russos…

Mas a problemática se acentua para nós.

Entendo nossa específica posição latino-americana de torcida frente a qualquer inimigo do hegemonismo dominador de EUA e Europa (e à OTAN, organização de métodos militares terroristas), que tanto nos tolheram (para dizer o mínimo) historicamente, um adversário que seja capaz de quebrar com eles, golpeá-los pra valer e, assim, oxigênio, permitir que façamos surgir sangue novo no jogo de xadrez geopolítico multipolar.

O fato, pena, é que uma simples pesquisa comprova que o partido de Putin é o Rússia Unida, uma aglomeração de oligarcas, “raposas” grandes e também do tipo “pega-tudo”, junto a outras coalizões de direita e até de extrema-direita. Partidos socialistas e comunistas da Rússia atual, majoritariamente compostos pela juventude, porém pequenos e fragmentados desde o fim da União Soviética (cujo escalão final era composto por idosos em descompasso com movimentos sociais), tentam protestar contra o que eles próprios chamam de ditadura (palavra neutra e complexa no marxismo, aliás), e as declarações públicas desses grupos de esquerda atestam em que lado estão: na oposição a Putin. (Paralelamente aos liberais pró-Ocidente, assinala-se, estando estes em maior número e com mais dinheiro…)

Não é à toa que, em longo discurso sobre a problemática situação atual, Putin, sempre de cara excessivamente sóbria e anestesiada, responsabilizou veementemente Lênin e outros comunistas soviéticos do passado por terem defendido criar uma Ucrânia separada, assim como outras regiões historicamente russas. (É certo que aquilo acontecia quando não havia ainda a OTAN, que está tentando cercar e dominar tudo, sendo esta a única justificativa plausível para sua decisão bélica… Lênin, por exemplo, não viveu para testemunhar o período do pós-segunda guerra mundial em que os EUA assumem de vez o que ele mostrara em sua teoria do imperialismo; até então, era a burguesia da Europa que desempenhava tal papel de maneira dominante.)

De qualquer forma, por mais defensivo que esteja frente a tal hegemonismo, todos sabemos que o “putinismo” é nacionalista, não internacionalista (princípio comunista básico), que é preconceituoso e ortodoxo nos costumes e quanto a outras conquistas caras às nós, ocidentais, que impede livres organizações da classe trabalhadora, que seu suporte à Venezuela ou a Cuba é mais estratégico do que qualquer outra coisa (assim como o era durante a União Soviética, quando esta já pouco ou nada tinha de revolucionária, mas de burocrática, quando pouco fez para barrar a interferência dos EUA em nosso continente); enfim, que está mais próximo ideologicamente do czarismo.

O hegemonismo dos EUA e da Europa não fará falta nenhuma e deve ser mitigado, varrido do mapa, e este é o momento, por conta da falta de grandiosos líderes ocidentais, mas tenho os pés no chão e o estado atual não me faz ver um mundo melhor com estes dois gigantes em momento pós-revolucionário ou até contrarrevolucionário de sua história, que um dia experimentaram fase mais popular e gloriosa do que agora: uma Rússia já nada socialista e uma China tão capitalista, este país, inclusive, cuja arma poderosa não é o míssil, mas o mercado, desde que o descobriu e por esse monstro insaciável foi picada — basta ver o que é o 99, aplicativo brasileiro comprado por um bilionário chinês e que explora informalmente nossos desempregados tal qual a Uber dos EUA, basta ver como empreendimentos chineses no Nordeste brasileiro ameaçam população e natureza tal qual qualquer essência capitalista apocalíptica –, daí a lástima de não termos ainda, não neste momento de DESgoverno federal de provincianos, incompetentes, ridículos, muito, muito pequenos, um Brasil forte e decisivo no jogo geopolítico, dando a sua imensa contribuição…

(E tal lamentação final dá assunto para outro aspecto, nosso, a ser resolvido a partir deste ano eleitoral e eleitoreiro de alguma mudança: temos, a rigor, três possibilidades internacionais e diplomáticas do miscigenado e diverso Brasil por vir – uma direitalha dependente e entreguista, uma esquerda potente mas limitada e uma extrema-esquerda, minha vertente favorita, mas imensamente precária de pensamento e meios materiais, praticamente inexistente na práxis, adolescente, deslumbrada, apologista, sem marxismo, ou, quando com marxismo, ainda em fase teórica.)

27/02/2022

Pressão das ruas precisa ser pela cassação da chapa Bolsonaro-Mourão, ao invés de impeachment

…Ao invés de impeachment, processo mais difícil e demorado, sobretudo porque o perturbado(r) da República, desprovido de ética, não mede escrúpulos para liberar verbas em troca de apoio no Congresso. Esse processo também esfriou após a carta humilhante escrita por Temer para apaziguar os arroubos golpistas de Bolsonaro no 7 de setembro junto ao que há de pior no agronegócio…

Já há inquéritos a respeito da cassação da chapa Bolsonaro-Mourão, inclusive a pedido de partidos de centro-esquerda, e relatório praticamente pronto a respeito. (Ver a reportagem mais abaixo.) O processo estava maturando em 2019, mas surgiram muitos outros inquéritos sobre gabinete do ódio, fakenews, quadrilha antidemocrática, etc.

Precisamos de pressão social, mas as pautas das manifestações de massa de rua contra a falta de governo e de presidente não parecem ainda especificar isso. Especificam pautas muito importantes e um “Fora, Bolsonaro” – quando muito, “Fora, Bolsonaro e Mourão”, mas não se dá o tom específico decisivo: cassação da chapa.

Uma vez que a justiça eleitoral costuma depender de ampla repercussão, gravidade considerada e provas robustas, o enfoque das manifestações precisam ser a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão.

Não se trata de ingenuidade com relação à dita justiça burguesa, mas Bolsonaro desvia e confunde todas as lutas, sendo, portanto, alívio conjuntural retirá-lo, inclusive das eleições (inelegível), por um lado, e justo dentro da própria ordem, considerando os crimes (neste caso) de abuso econômico com empresas financiadoras de campanha suja, compra irregular de base de usuários e outros.

É preciso lembrar que a CPI da Pandemia entregará, nos próximos dias, seu relatório final, e, segundo os jornais, uma equipe de juristas já elencou diversos crimes de Bolsonaro: crime de responsabilidade, corrupção passiva, charlatanismo, estelionato, crime contra a humanidade e outros a serem enviados à Procuradoria Geral da República, ao Ministério Público, ao Tribunal de Contas da União e até ao Tribunal Penal Internacional.

Esta configuração, no entanto, concentra-se em Bolsonaro e, francamente, pode se arrastar, não indicando necessariamente que a situação mude a curto prazo. Discute-se também no Senado alteração da Lei do Impeachment, uma vez da demora dos pedidos na Câmara dos Deputados – porém, insisto que o impeachment não é o caminho mais adequado no momento.

O problema da cassação da chapa: a priori, após um tempo do mandato/governo, as eleições tornam-se indiretas quando efetivada a cassação. Porém, isso pode constituir outro julgamento, outra discussão.

Compartilho, abaixo, ofício recente, de poucos dias atrás, que pede compartilhamento de provas do inquérito no âmbito do TSE:

https://www.conjur.com.br/dl/tse-compartilhamento-provas-inquerito.pdf

Atenção para o último parágrafo desta reportagem https://outline.com/nBuHLT abaixo :

Na Corte [do STF] tramitam quatro inquéritos contra Bolsonaro e a Segunda Turma do Supremo decidirá em breve o futuro do senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ) no caso das rachadinhas. Além disso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem em mãos um relatório praticamente pronto que pode levar à cassação da chapa Bolsonaro-Mourão por supostos crimes cometidos na campanha de 2018. Outro fator é o peso que os ministros teriam em apoiar a deflagração de um processo de impeachment, que ganhou corpo nos últimos dias em negociações da oposição com o Centrão.”

Abaixo, uma outra notícia (https://outline.com/TyfMdV), desta vez a respeito do ofício que pede compartilhamento de provas e que contextualiza a questão:

Corregedor do TSE pede ao Supremo compartilhamento de provas para investigação da chapa Bolsonaro e Mourão

O corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Luis Felipe Salomão, encaminhou nesta quarta-feira, 4, um ofício ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), solicitando o compartilhamento de provas coletadas em inquéritos da corte que podem abastecer duas ações no Tribunal Superior Eleitoral contra a chapa do presidente Jair Bolsonaro e pelo vice Hamilton Mourão por disparos em massa durante as eleições 2018.

No ofício encaminhado ao STF, o corregedor-geral da Justiça Eleitoral cita a investigação que mira sobre suposta organização criminosa ‘de forte atuação digital, com a nítida finalidade de atentar contra a Democracia e o Estado de Direito’. A apuração é um desdobramento do inquérito dos atos antidemocráticos arquivado por Alexandre a pedido da Procuradoria-Geral da República.

“Com a instauração de novo procedimento investigativo, que poderá conter elementos para a instauração deste feito, renove-se o pedido de informações e de compartilhamento de provas que possam vir a interessar à solução das lides postas no autos Aijes (ações de investigação judicial eleitoral)”, escreveu Salomão.

No texto do ofício, Salomão afirma já ter recebido de Alexandre de Moraes cópias do “Relatório de Análise de Material Apreendido” em que constam informações sobre os investigados. O corregedor-geral, no entanto, solicitou o acesso às demais provas colhidas pela investigação que apura possíveis crimes praticados por aliados de Bolsonaro que integram o chamado “gabinete do ódio”. Bolsonaro e Mourão são investigados por supostamente terem contratado serviços irregulares de disparo em massa de mensagens nas redes sociais durante a campanha eleitoral de 2018.

As ações foram movidas pela chapa “O povo feliz de novo”, formada por PT, PCdoB e PROS, que concorreu contra Bolsonaro no segundo turno daquele ano, e pede a cassação da chapa por abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação social.

O teor das apurações que correm em paralelo no TSE e no STF se aproximam, pois os alvos investigados, apesar de distintos, podem integrar a mesma “organização criminosa, de forte atuação digital, dotada de núcleos políticos, de produção, de publicação e de financiamento, cujas atividades teriam se desenvolvido após o pleito de 2018 (2020 em diante”.

Na segunda-feira, 2, os ministros do TSE aprovaram por unanimidade a abertura de inquérito administrativo para apurar se, ao promover uma série de ataques infundados às urnas eletrônicas, Bolsonaro praticou “abuso do poder econômico e político, uso indevido dos meios de comunicação, corrupção, fraude, condutas vedadas a agentes públicos e propaganda extemporânea”.

O desfecho das investigações em andamento no TSE pode atrapalhar os planos políticos de Bolsonaro, que se cercou de parlamentares do Centrão em busca de angariar forças que dêem sustentação ao governo ao custo de cifras milionárias em emendas parlamentares, conforme revelou o Estadão . Juristas ouvidos pela reportagem dizem que o resultado do inquérito pode levar à impugnação do registro de candidatura do atual presidente pela Justiça Eleitoral, caso ele deseje concorrer à reeleição no ano que vem.

10 de setembro de 2021

Eduardo Leite, que se assumiu gay só agora, diz não se arrepender de ter apoiado Bolsonaro e defende agenda neoliberal de Paulo Guedes

Leite diz que não se arrepende de ter votado em Bolsonaro e defende agenda de Paulo Guedes

https://www.youtube.com/watch?v=fC-hJ6VyjGA
Eduardo Leite, que se assumiu gay só agora, mesmo apoiando, de quebra, a homofobia de Bolsonaro, é exemplo máximo do que venho alertando a respeito do identitarismo (que, em seu caso, sequer é pauta que agregue algo) sem centralidade na categoria de classe social! Colegas gaúchos me disseram que ele está vendendo tudo para o setor privado e arrasando com professores (conforme é típico dos tucanos).
Tudo indica, então, que a Globo finalmente encontrou seu candidato de direita para a Presidência, num rompante de marketing eleitoreiro para fazer o inexpressivo ser conhecido pelo resto do país no programa do decadente Pedro Bial (e o Jornal Nacional noticiou novamente o fato dele ter se assumido gay), um típico representante de um “Quebrando o Tabu” e afins: um tucano neoliberal que engana identitários, incautos, distraídos e despolitizados com afirmação de sexualidade que nem sequer é pauta sua de movimento social, como se LGBTs não tivéssemos classe social, para tentar seguir com as privatizações e contrarreformas que atacam a classe trabalhadora e a população no geral.
Não foi isso também que a Rede Globo, ou seja, a família Marinha com os chefes executivos – e eu avisei desde o início diante de parte da esquerda superficial, deslumbrada, meramente arrivista e sem teoria – elaboraram com uma Maju Coutinho, colocando-a como vitrine para um jornalismo que defende há anos as privatizações e as contrarreformas que, no fundo, perpetuam o racismo?

O que o impeachment de Collor pode nos ensinar sobre o (im)provável impeachment de Bolsonaro diante de escabrosa corrupção e manifestações?

Clique na seta para ver as outras imagens do álbum da postagem abaixo.

Ps.: O Prof. Brasilio Sallum Jr. (USP e UNIFESP), embora faça mais jus à sociologia paulista, sabe muito de marxismo, teoria marxiana, método marxista e merece ser lido quando trata disso. Recomendo seu texto abaixo (“Marxismo, sistema e ação transformadora“), em que cita Gramsci (o “site” reúne textos gramscianos e sobre Gramsci) e uma renovação coerente de Marx e Engels, e é justamente uma tentativa de propor caminhos teórico-práticos para marxistas superarem não só o dito “dogmatismo”, mas também o limbo de um tempo contra- ou antirrevolucionário:

https://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=1577

O sucessor do bandido Ricardo Salles prova mais uma vez que é preciso tirar Jair Bolsonaro

Ricardo Salles, que pediu demissão hoje do Ministério do Meio Ambiente do DESgoverno Bolsonaro senão iria preso pelo escândalo de madeiras, é um serviçal de desmatadores, grileiros, empresários do agronegócio, proprietários fundiários, fazendeiros e latifundiários. Não é outra a função da direitalha senão servir ao poder econômico da burguesia destrutiva.

Não me recordo se já contei, mas, quando fazia um curso de arte e política no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, em 2019, ouvi de um dos participantes que, quando Salles ainda era secretário do governo Alckmin em SP, ao saber que ele havia ocultado área geográfica da bacia do rio Tietê para favorecer capitalistas predadores, o rapaz – que nos mostrou seus belos desenhos de fauna e flora – o denunciou e, ameaçado de morte, teve de deixar o país… (Sim, isto ocorreu antes de Bolsonaro!)

Salles seria condenado em dezembro de 2018 por esse crime – mesmo assim, o sacripanta Bolsonaro, antes e depois da posse, o manteve nomeado.

No seu lugar, entra agora Joaquim Álvaro Pereira Leite, que já era próximo do sacripanta que não pode continuar no Palácio do Planalto. Haja vista que, tão logo seu nome foi anunciado, já pululam boas matérias a seu respeito:

Família de novo ministro do Meio Ambiente disputa posse em terra indígena em SP (23/06/2021):

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57590288

Ricardo Salles: saída tardia de ministro não mudará política pró-desmatamento de Bolsonaro, dizem ONGs (24/06/2021):

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57595804

Homenagem-síntese ao aniversariante Chico Buarque

E para a alegria de milhares nas redes, Chico Buarque passou pelas manifestações do #19JForaBolsonaroeMourão justamente no dia de seu aniversário (ver vídeo e fotos mais abaixo)!

Vídeo: Mais de 500 mil óbitos na pandemia e manifestações do #19J pelo Fora, Bolsonaro e Mourão!

Abaixo, vídeo amador que fiz para meu canal no YouTube em que coletei, primeiro, as declarações absurdas desse sujeito do início da pandemia em março de 2020 até agora, e depois fotos e vídeos das manifestações nacionais exigindo o fim do DESgoverno:

 

Lula readquire os direitos políticos e está elegível para 2022: vamos pensar?

Não existe “polarização” (farsa da ideologia liberal): existem lutas de classes, ora veladas, ora abertas, como já afirmava o Manifesto Comunista, e com seus respectivos representantes ou lideranças…

Escrevi, há poucas semanas, um texto crítico com relação a Lula, intitulado “Lula e a utopia da conciliação de classes“, mas nunca deixei de considerar o fato inconteste de ser ele a maior liderança orgânica do país e uma das maiores do mundo – em determinados momentos, um protagonista do movimento progressista.

Agora, a reabilitação dos direitos políticos de Lula com a anulação dos processos dos lesa-pátria lavajateiros de Curitiba – por um Edson Fachin que, com toda certeza, quis com sua manobra livrar Sérgio Moro, agradar a gregs e troianos – e, já no dia seguinte, o início do julgamento da suspeição de Moro pelo Supremo Tribunal Federal (que Faschin quis interromper, revelando sua intenção) certamente restauraram a cidadania e provocaram uma onda de alegria, entusiasmo, fôlego e alívio em milhões de brasileiros num momento terrível e cinzento de DESgoverno, falta de liderança, desmobilização, isolamento geopolítico, distanciamento sanitário, crise capitalista, sufoco, descrédito, nenhuma perspectiva, ataques direitistas e pandemia mortífera. Tento não me deixar levar e ter os pés calcados na crítica.

O momento talvez lembre, guardadas as enormes diferenças contextuais e até de estatura das figuras, a ditadura de Vargas I e a promessa de um Prestes Cavaleiro da Esperança redentor, que não se cumpriu. Aliás, ambos – na verdade, Vargas II – subiram juntos em palanque anos depois…

Agora, pensem bem. Se a grande mídia hegemônica – Globo, Folha, Estadão – está fula com Lula  (chamando-o de “monstrengo”, mais uma vez investindo no terrorismo da época da Guerra Fria ao dizer que ele joga o Brasil “num turbilhão de incertezas”, sendo que governou também para eles e para o empresariado por 8 anos, estupidamente nivelando-o com Bolsonaro, já que o plano seria emplacar um direitista que continuasse com as contrarreformas antipopulares, o que eles não têm, etc.), Lula, um utópico da conciliação de classes, imaginem o que os capitalistas e seus capangas fariam contra um comunista, um marxista realmente calcado na teoria e na práxis que fosse intelectual/líder orgânico e tivesse enorme organização popular consigo!

Isto é para vocês verem o quão ignóbil e desprezível é a nossa elite econômica, o quão a centro-esquerda apenas ocupa posições que deveriam ser de uma direita minimamente sensata, o quão irracional é a direitalha, que só ganha com marionetes toscas não-orgânicas, bizarras e exóticas sem projeto sério – Jânio, Collor, Bolsonaro, etc. Diante dessa miséria ideopolítica, resta à doutrina marxista ser ainda minoritária na esquerda – mas sua força é explosiva!

Os destinos de Marighella, Che Guevara, Allende (um médico equilibrado, que disputou eleição nos conformes da regra eleitoral da farsa burguesa, porém autoproclamado comunista e suicidado por Pinochet e EUA!), personagens da Intentona Comunista e muitos outros nomes deste continente e alhures (praticamente todo marxista e comunista) que o digam, a própria História mostra o que acabo de afirmar sobre o elitismo anticomunista…

Para terminar, cabe uma palavra filosófica. Obviamente, não se trata apenas da situação de que uma transformação radical exige uma reação radical, de que um processo revolucionário justificaria a contrarrevolução (fórmula nazifascista em favor dos capitalistas e proprietários fundiários), mas o inverso, a transformação é radical justamente pelas próprias condições dadas no jogo de tabuleiro após a acumulação primitiva e a concentração da posse, porque os oponentes de tal transformação já estão fortemente armados contra a melhoria da humanidade e da socioeconomia para perpetuar seus sórdidos interesses e privilégios de classe dominante, que queremos abolir e socializar a todos e todas.

Ver também

CPI da COVID já para enquadrar os crimes do presiDEMENTE Jair Bolsonaro!

Ter, em plena crise e pandemia, cancelado o auxílio emergencial, fechado e cortado o financiamento de mais de 8.000 leitos de UTI, promovido aglomeração praticamente semanal, combatido o uso de máscaras de proteção, desdenhado das vacinas, atrasado a aquisição, propalado negacionismo corrupto da perigosa e ineficaz cloroquina, atrasado oxigênio para Manaus e outras cidades, omitido a própria (ir)responsabilidade, isolado o Brasil – que sempre fora referência mundial em Saúde Pública e em vacinação em massa – do resto do mundo, destruído o ministério da Saúde, calado sem nenhuma palavra de solidariedade a tantos óbitos diários de brasileiros etc. são motivos mais do que suficientes para uma CPI da COVID, de preferência com ampla participação popular, ao invés de ser joguete para a direita desidratá-lo e tentar emplacar outro nome para chamar de seu.

Ver também

‘Big Brother’: parece que só no Brasil a esquerda morde a iscarmadilha da Globo capitalista e golpista…

O ‘Big Brother’ (produto-entretenimento superficial e importado com marketing, propaganda, clichês e diálogos e cenas manipulados em que subcelebridades egoístas e malévolas se devoram para ganhar dinheiro) faz sucesso no mundo todo, mas não sei se a esquerda dos respectivos países morde a isca tão fácil assim como a esquerda brasileira, partidos, movimentos sociais, que se envolvem a tal ponto no ibope lucrativo, mordem a isca do marketing de identitarismo da Globo capitalista, emissora hegemônica que defende diariamente as contrarreformas neoliberais e o mercado. Preferem ser aceitos, empregados, cooptados pelo capitalista branco e hetenormativo do que realmente destruir a estrutura capitalista! É degradante.
Basta dar uma olhada nas redes antissociais.
A esquerda brasileira (aqui, sim, igual à do resto do mundo em retaguarda pós-moderna), contaminada de identitarismo, de arrivismo, em falta de construção revolucionária e lutas de classes, morde a isca da Globo, porta-voz de banqueiros e elite econômica. A Globo – progressista e liberal nos costumes, mas conservadora na economia – “sacou” isso e se dá bem jogando com o identitarismo. Não é à toa que a extrema-direitalha à lá Bolsonaro (mas também no resto do mundo) acaba agregando e enganando setores populares da classe trabalhadora, que identificam a esquerda lato sensu com esse “lixo cultural” importado, transbordando ideologia pequeno-burguesa e individualismo. Precisamos de Arte (e o Brasil a tem de sobra), da criação de uma nova cultura crítica e popular, de Economia Política, de Filosofia da práxis, de jornalismo e debates públicos que conscientizem o que acontece no país, não disto, muito menos da Record charlatã, retrógrada e evangelofundamentalista.
7 de fevereiro de 2021

Lula e a utopia da conciliação de classes

“Você está lembrado qual foi a atitude que eu tomei quando eu ganhei as eleições? Você está lembrado que eu coloquei todo ministério em um avião e levei todos os ministros para os quatro lugares mais pobres do Brasil? O que que eu queria com aquilo? Eu queria que um Meirelles, que era banqueiro, eu queria que um Palocci, que era médico, eu queria que um Furlan, que era empresário, conhecesse uma palafita, que vissem o homem e a mulher [que] no mesmo lugar que eles defecavam eles comiam, eu queria que eles vissem a quantidade de meninas com dois ou três filhos com pai desaparecido, eu queria que eles vissem o vale do Jequitinhonha, queria que eles conhecessem o mundo tal como ele é, não o mundo de Brasília. Então a esquerda tem que assumir compromisso”. – Luís Inácio Lula da Silva, entrevista a Glenn Greenwald no cárcere, 21 de maio de 2019 (vídeo completo; transcrição em texto)

“Twitte” oficial de Luís Inácio Lula da Silva a partir de entrevista sua em fevereiro de 2021.

Jamais me esquecerei – e quero ainda pôr isto em cena teatral tragicômica – de Lula, a maior liderança popular e orgânica de centro-esquerda do mundo contemporâneo, o único a encher de gente tanto o Nordeste quanto a Avenida Paulista, partícipe das maiores greves do país, ex-metalúrgico de base, co-fundador de um Partido dos Trabalhadores, Presidente do Brasil duas vezes em eleições históricas e de massas, na cadeia, em entrevista a Glenn Greenwald (em que, inclusive, lembra enfático que nunca declarou que faria um governo socialista), ORGULHOSO em contar que seu ato primeiro de governo foi reunir seus ministros, o banqueiro Meirelles, o empresário Furlan, o médico Palocci e levá-los para ver como vivem os brasileiros nas palafitas (ele mesmo viveu em uma, sabe na pele como é!), metro cúbico em que onde se come é também onde se faz as necessidades fisiológicas. Se eu fosse pintor, já teria pintado a cena memorada em estilo portinaresco.

Este episódio factual é o suprassumo da utopia da conciliação de classes, que se tornará visivelmente insustável com a Presidenta Dilma Roussef! Utopia na acepção negativa da palavra. É o cúmulo da ingenuidade! Ou talvez não seja ingenuidade: “Vim mais à FIESP do que à CUT“, declarou o Presidente Lula em 2010, já deixando o segundo governo, a empresários de São Paulo, e não em tom de arrependimento, e sim para mostrar ao empresariado capitalista que eles “nunca ganharam tanto dinheiro” quanto no seu governo, que esteve mais ao lado deles do que da Central Única dos Trabalhadores… De qualquer forma, trata-se de um dos piores e melhores momentos da História do Brasil! Quem quer entender o que vivemos hoje precisa mergulha na reflexão daquele acontecimento. É exemplo do que a esquerda não deve fazer, é exemplo tácito de que devemos lutar para fazer o oposto! Um ex-metalúrgico (profissão extinta, aliás), com a máquina do Estado brasileiro nas mãos, servindo de mediador político entre subproletariado e apáticas burguesia e pequena-burguesia, que odiarão a mínima ascensão social promovida, no momento mesmo em que o capital hegemônico estrangeiro, especialmente da reação dita imperialista dos EUA, tampouco admitirá o protagonismo brasileiro! As lutas de classes são um dado científico, e as primeiras linhas do Manifesto Comunista de 1848, o qual o ex-deputado federal petista José Genoíno (partícipe na Guerrilha do Araguaia e de reputação destruída após o famigerado “mensalão”) cita no final de entrevista de 4 dias atrás como norte da fileira pela qual ele luta, mostrou que “opressores e oprimidos sempre estiveram em oposição, travando luta ininterrupta, ora velada, ora aberta, uma luta que sempre terminou ou com a reconfiguração revolucionária de toda a sociedade ou com o ocaso conjunto das classes em luta”. (Resta saber, tendo como base de discussão a argumentação lançada pelo grande filósofo Álvaro Vieira Pinto em Consciência e Realidade Nacional, o momento em que as lutas de classes nacionais, internas, seriam menos importantes e mais secundárias do que as lutas de classes entre o país subdesenvolvido e as forças externas hegemônicas, mas Vieira Pinto defende essa tese antes do golpe de 64, pensando em ampla integração desenvolvimentista nacional e com boas reformas estruturais em torno de João  Goulart… A revolução pode ser incerta, mas a contrarrevolução, neste continente que luta há séculos por sua emancipação, é sempre certa, daí a necessidade da construção revolucionária e da luta pela hegemonia antes da conquista do poder governamental, tal como propõe Antonio Gramsci.)

Mas não poderia ser mais tragicômico o episódio referido: Henrique Meirelles (24° Presidente do Banco Central do Brasil sob o governo Lula) depois foi ser ministro da Fazenda do governo ilegítimo de Michel Temer pós-golpeachment, depois Secretário da Fazenda e Planejamento do governo estadual austero do tucano João Doria, ou seja, nem quis saber da prisão de Lula, retirado propositalmente da eleição, e de seu impacto ao país, enfim, tem cabeça de banqueiro (salvo engano, a sua candidatura à presidência em 2018 foi a mais cara de todas, talvez mais cara do que a do tosco Amoedo do Partido “Novo”: Meirelles, o gorduroso indolente, se deu ao luxo de tirar milhões do bolso, mesmo sabendo que perderia!), assim como Luiz Fernando Furlan (ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior no governo Lula) tem cabeça de empresário, e ambos devem embarcar nos últimos anos – ou desde já aquela época da coalização entre PMDB e PT – na monomania midiática desprezível e renitente de contrarreformas neoliberais (defendidas agora por Lira e Pacheco no DESgoverno Bolsonaro, que já em campanha em 2017 e antes da posse, em 2018, primou pelo ódio racista às classes subalternas e defesa vocal do patronato), contrarreformas que nos atiram no atraso e atacam a classe trabalhadora, que dirá os brasileiros quase sem classe que vivem em palafitas, já que, de lá para cá, também aumentou o número de seres sociais e até famílias nas ruas, pivetes nos sinais – doenças que tinham acabado, assim como o Brasil retorna ao Mapa da Fome do qual tinha se livrado pelo projeto petista (Fome Zero e outros); Antonio Palocci (ex-ministro da Fazenda no governo Lula, tendo renunciado) talvez seja caso ainda pior, pois, como todos sabem, voltou-se direta e pessoalmente contra Lula (que o rebateu e o justificou chamando-o de “médico, frio” diante do juizeco-asset Sérgio Moro), acusando Lula em processo de corrupção para se safar em delação premiada (a Polícia Federal acabou concluindo que a delação de Palocci não se sustenta).

Eis a índole bandida da burguesia e da pequena-burguesia, e toda política conciliatória pragmatista significa nos colocar nas mãos dessa gente cujo rosto sem máscaras é Bolsonaro, porta-voz de todos os vícios, esculhambações, incompetências, crueldades e pensamentos mais secretos e sinceros da educada e bem asseada burguesia, tal como o fenômeno que ocorre no romance O Retrato de Dorian Gray, do socialista Oscar Wilde, e tal como Hitler em 1932 em discurso num clube de industriais alemães, afirmando que para a classe dominante perpetuar seus privilégios, seria preciso sacrificar as outras classes, porque a crise havia mostrado que “não há o suficiente para todos” (como se vê, o nazifascismo, surgido do capitalismo, é o extremo-oposto do generoso e justo comunismo, cuja fórmula Marx inscreve na Crítica do Programa de Gotha: “de cada um conforme a sua capacidade, a cada um conforme a sua necessidade“)…

O próprio sociologóide weberiano FHC, muitas vezes visto como o contraposto de Lula (adversários clássicos e representantes políticos de classes em conflito entre si), denominado “príncipe dos tucanos”, incólume pela justiça elitista, que surge sempre na mídia grande como se tivesse sido exemplo de presidente (na verdade, seu governo fraco e pró-FMI testemunhou significativas greves, fome, desleixo social), disse, anos atrás (cerca de 2008) em entrevista ao Canal Livre, que Lula, apesar de ter sido metalúrgico, surgido das Grandes Greves do ABC Paulista, nunca viu o mundo sob o prisma das lutas de classes, e sim da conciliação, de uma democracia cristã ou algo do tipo. Quão certo ele está! Sentando-se com o empresariado da FIESP de um lado e sindicatos e organizações de trabalhadores do outro, esse intruso (para as elites) vindo num pau-de-arara do sertão pernambucano, mas ingênuo “antileninista”, não duvido que com a melhor das intenções e em busca do bem comum (o qual será sempre superficial na sociedade de classes, a menos que vire bem comunista, isto é, tomada, expropriação, distribuição e socialização da propriedade privada dos meios de produção), julgava encontrar para ambas as partes luz no fim do túnel. A luz era um trem.

Na verdade, foi pior do que isto, foi pior do que ingenuidade. “Vim mais à FIESP do que à CUT“, declarou Lula em 2010 a empresários em São Paulo, no ano em que deixava seu segundo governo. E tal frase não era em tom de arrependimento, e sim para mostrar ao empresariado capitalista que eles “nunca ganharam tanto dinheiro” quanto no seu governo, que esteve mais ao lado desses do que da Central Única dos Trabalhadores.

O “cavalheiro da esperança” vã, Prestes, nos anos 1980, já tinha um pé atrás e insistia em entrevistas que Lula deveria ler teoria, ser marxista, uma vez que era quadro orgânico advindo da classe trabalhadora e da base da pirâmide social. Não basta sentir na pele, se não se assimila no cérebro. Aqui, há toda a problemática da Crítica (da teoria) e da prática a ser resolvida dialeticamente em unidade (muito bem formulada por Gramsci), jamais com dualismo. Mas o PT possui ojeriza da teoria e nem mesmo a sua Fundação Perseu Abramo estimula a práxis a partir de uma teoria minimamente marxista. As escolas do MST, que possuem como guia Paulo Freire, vão até onde? Quem poderia suprir essa defasagem em Lula, a “cabeça” de Lula para finalmente chegar à vitória federal após quatro derrotas (ainda que tenha chegado sempre no segundo turno) foi José Dirceu, que era comunista na juventude, mas não mais na maturidade sob o marqueteiro eleitoreiro Duda Mendonça e a Carta ao Povo Brasileiro para acalmar o mercado com a vitória em 2002. Hoje, sim, com a reputação destruída, Dirceu retorna ao discurso socialista (basta assistir o final de sua entrevista com o liberal social Fernando Haddad), assim como José Genoíno, ambos tentando recuperar o tempo perdido… Este último assumiu, na entrevista já referida de 4 dias atrás, que o “PT teve ilusões com o compromisso democrático da burguesia”. Estranho que tenha sido preciso um trauma tão grande, que fez até mesmo camadas populares, não só a pequena-burguesia, ter ressalvas a um partido que se chama dos trabalhadores após a intensa campanha midiática de demonização com táticas da Guerra Fria, financiada pelos capitalistas com o dinheiro da classe trabalhadora, para surgir a consciência do óbvio.

De fato, mesmo nos estertores recentes, quando as instituições burguesas mostram-se falidas, quando a Constituição de 1988 demonstra suas fragilidades sociais e políticas e uma franja pilantra e alucinada chamada extrema-direita irrompe com discurso radical, não cabe à esquerda ser conservadora e defender as intuições que só prejudicam a classe trabalhadora, e sim ser ainda mais radical e mostrar a farsa do outro lado. Não cabe falar em “democracia em vertigem”, pois esta democracia é a ditadura do capital, e há uma outra democracia possível, popular, direta, de conselhos a ser defendida, não a “democracia” das instituições conservadoras na economia. (Aliás, o documentário de Petra Costa é crítico, ao contrário do que muitos dizem, porque não só registra o fato do partido ter se distanciado das bases em nome do pragmatismo, como também mostra o Lula que confrontava os bancos nas campanhas em que perdeu, até investir na ampla agregação nacional, quando ganhou.)

O máximo que Lula conseguiu chegar foi em histórico vídeo do tradicional dia 7 de setembro de 2020 (Dia da Independência do Brasil), ainda que com trilha de fundo forçada, já liberto, em que destoa muito acima do discursesco deplorável e esquecível do medíocre, limitado, tacanho, tartamudo Jair Bolsonaro e critica o capital (fez quase lembrar o célebre discurso de Lincoln, que distinguia o capital do trabalho, assim como Marx, que lhe escreveu efusiva carta na Associação Internacional dos Trabalhadores) e mostra-se um verdadeiro líder protagonista e calejado, mas isto não passa de retórica, pois as pautas petistas são as mesmas, agora sem boom dos commodities, e há mesmo socialistas, comunistas, marxistas já se perguntando se o discurso anticapitalista do PT não serve para conquistar eleitoralmente as esquerdas sem entregar realmente pautas compatíveis com a fala… Só haverá transformação real nesse partido (e sua renovação para transformar o Brasil, já que é o maior do chamado “campo progressista”) quando a Juventude Socialista do PT deixar de ser agremiação de militontos, virar realmente socialista e expulsar, junto à classe trabalhadora, a cúpula jurídico-pelega, ou então é melhor disputar a teoria revolucionária num partido dito comunista ou apostar as fichas e a energia na criação dum novo partido…

O fato é que a centro-esquerda petista, cada vez mais burocrática (ou pelega, se quiserem, mas sem surpresas, pois o PT nasce não do marxismo e sim do sindicalismo que já acabou enquanto espaço amplamente agregador das lutas e que se limitava a melhores condições de trabalho e a melhores salários, sem nada falar de mais-valia ou mais-valor), surfando com extrema competência administrativa e sensibilidade social no boom dos commodities, desconsiderando até mesmo reformas em troca de programas sociais, entre o pragmatismo, o assistencialismo, o consumismo, o eleitorismo e outros ismos, fortalecendo a carteira assinada, mas sem consciência revolucionária (foi fácil a direitalha surgir e destruir tudo, pois não havia estofo construído por baixo), pintou de lindos esmaltes as unhas da elite capitalista, até o esmalte se desgastar e revelar as garras dos monstros…

7 de fevereiro de 2021

Dia péssimo – Arthur Lira eleito presidente da Câmara dos Deputados com apoio corrupto de Jair Bolsonaro

Jair Bolsonaro e Arthur Lira (Progressistas-AL): clientelismo, corrupção – direitalha mamateira e extrema-direitalha.

Dia triste. Abre-se um novo capítulo, com certezas e incertezas. Se ontem sentia-se o cheiro de impeachment por tantos crimes, hoje tudo se torna mais complicado.

Bolsonaro fará uma “reforma ministerial” para acomodar o Centrão em cargos fartos da alta burocracia federal, depois de torrar nosso dinheiro com emendas parlamentares bilionárias (cerca de R$3 bilhões, mais meio milhão de reais a véspera da eleição, em plena crise e pandemia) para comprar a velharia do Congresso. O Centrão lhe dará ainda mais musculatura, mesmo sendo este o DESgoverno mais inepto e tendo já nos isolado do resto do mundo. Quem quer mudar o Brasil, precisa entender que Lula (que também teve de fazer uma reforma ministerial para se sustentar mais, embora tivesse equipe competente e amplo apoio popular), Dilma e qualquer outro ficou nas mãos do Centrão, portanto é preciso investigar a base social e eleitoral na sociedade brasileira desse Centrão (uma direita sem ideologia, apenas fisiologista e mamateira). Só “paredão” (Paredón) não adianta, porque esses canalhas não brotam do “nada” nem vêm de Marte. Também é preciso insistir que a direitalha, incluindo PSDB, mídia e demais partidos de centro-direita, têm um enorme dedo de responsabilidade no que estamos vivendo, porque a direita no Brasil só ganha eleição apelando (Jânio Quadros, Collor, Bolsonaro – e basta lembrar da compra de votos pela reeleição de FHC), ou seja, não teve a mínima vontade de atacar a extrema-direitalha como se deve. À esquerda, nossa crítica se deve à falta de radicalidade nas pautas, à falta de estudo da teoria marxiana e de estratégicas socialistas que contribuam para uma construção revolucionária entre o povo, que prepare a sociedade civil pela disputa da hegemonia e eventual tomada de poder. Para ajudar na investigação desse obstáculo aos avanços sociais que é o Centrão, cumpre começar o básico, ou seja, a sua faceta institucional. O Centrão, hoje, é constituído pelos seguintes partidos: PP (40 deputados), Republicanos (31), Solidariedade (14) e PTB (12), mas, dependendo da situação e de quem der mais, juntam-se a estes o PSD (36 deputados), o MDB (34), o DEM (28), o PROS (10), o Partido Social Cristão (9), o Avante (7) e o Patriota (6).

O importante é que vocês entendam que, na hora do pragmatismo, nosso problema não é porra de fascismo nenhum. É direitalha e Centrão. Esquerda que fizer pesquisa a respeito disso terá caminho para começar a mudar o cenário a médio e longo prazo.

E, por trás da direitalha e do Centrão, o capital, a estrutura. Não seriam quem são não fosse a defesa do lucro, de setores fundamentais do empresariado brasileiro, etc.

Mas o mais importante é entender o papel da classe trabalhadora e do povo-nação nisto.

Agora, vamos a uma crítica ao tal “centro democrático”, que inexiste, apesar da ingenuidade da esquerda não-revolucionária, que parece adorar ser eternamente resistente e sadomasoquista, ao invés de usar sua plataforma mais bem estruturada e solidificada para trabalhar para governar e ensinar trabalhadores a governar:

O tragicômico da situação: PT, parte do PSOL (que depois foram vencidos e tiveram de votar em Erundina), PelegodoB, PDT e PSB (o menos de esquerda de todos), ou seja, partidos de centro-esquerda ou ditos de esquerda (138 deputados) apoiaram Rossi (crítico de Bolsonaro, apoiador das contrarreformas neoliberais), crentes de que o “habilidoso” Rodrigo Maia (DEM-RJ), que não passa dum banana e conivente, conseguiria elegê-lo contra Arthur Lira (Progressistas-AL). São uns ingênuos, para dizer o mínimo e no eufemismo… A direitalha só estava fechada com Rossi para chanteagar Bolsonaro a lhes dar mais. Tão logo isso ocorreu às vésperas da eleição, eles debandaram do lado de Maia para o lado de Lira. Não há ética nenhuma, nada importa a não ser dinheiro para seus redutos eleitoreiros e cargos fartos. Basta ver quantos votos Rossi recebeu, e de quem foi… Rs… A esquerda se presta a este papel ridículo! E, se parece sonhadora demais quando se desgarra desse pragmatismo da democracia liberal burguesa, deve procurar saber por que não tem força, para além de eleições, e sim em termos de construção social gradativa e estável (tal como propõe Gramsci).

Teria sido mais digno lutarem e votarem na Erundina ou num nome próprio, forte, ainda que mediador para além da esquerda, se é que há algum.

Faz lembrar de um episódio típico que eu ainda quero escrever para uma peça, colocar em cena! É como Lula, em seu primeiro ano de governo, levando seus ministros, o banqueiro Meirelles, o empresário Furlan e o médico Palocci para irem ver como o brasileiro vive em palafitas. E daí?! Não existe conciliação de classes, sobretudo quando já nada tem a ver com nazifascismo. Meirelles fez parte do governo ilegítimo do Temer, depois do Doria, é banqueiro, enfim; Furlani, cabeça de empresário, e Palocci (homem “frio”, segundo o próprio Lula diante do juizeco Moro) voltou-se contra Lula, invenntando mentiras contra ele em delação premiada para se safar. Essa ingenuidade na esquerda só é justificável por sua fraqueza, mas deve-se justamente buscar a força popular (não a força da velharia oligárquica e burguesa) para não se incorrer mais nesses episódios ridículos, que só levam a derrotas degradantes e vexatórias !

Com Arthur Lira, que ontem tinha discurso de paz e harmonia e hoje, mesmo dizendo que governará com direita, centro e esquerda, o tom será revanchista, com mais retrocessos à vista. Com ele, como com praticamente todos os antecessores, a Câmara Federal, antes de ser a Casa do Povo, é uma câmara anecoica, surda aos verdadeiros anseios da maioria.

Quanto a Bolsonaro (enfraquecido, apesar da maior musculatura  do seu DESgoverno) e seus milicos, não terão vida fácil: mês a mês o governo abrirá os cofres para saciar o Centrão, nosso dinheiro esfolado sem dó, sobretudo o dinheiro suado de milhares de brasileiros que trabalham na base da pirâmide social e que nada recebem em troca, nem sequer administram o que produzem ou lhes é ensinado a tomar os meios de produção. A tal da direita rachou. O Brasil ainda está sem projeto, sem futuro, sem emancipação, sem liderança.

Ps.: Rodrigo Pacheco (DEM-MG), apoiado por Bolsonaro e pelo PT, foi eleito no Senado Federal.

Ps.: A bandida Bia Kicis, investigada por disseminar fakenews criminosas e defender atrocidades direitistas, das poucas ferrenhas apoiadoras do DESgoverno Bolsonaro (junto à pilantra Carla Zambelli), presidirá a Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Casa, pois é ali que se decide se passa ou não um projeto de lei. Eis um dos frutos abomináveis do “toma-lá-dá-cá”.

Ps.: Li nos jornais que há imensa expectativa da bancada ruralista em passar todo tipo de retrocesso e regressão: liberação de mais agrotóxicos, revisão dos processos de demarcação de terras indígenas, flexibilização do licenciamento ambiental e a regularização fundiária na Amazônia, etc. O que é o inferno de Dante perto disto?!

É degradante ser apenas resistente pelos tempos que virão. É preciso mais, é preciso pôr tudo isso abaixo! Não tenho carro nem sei andar de bicicletas para participar das carreatas em pandemia (as quais apoio e incentivo), mas tão logo houver imunização geral, é rua para mobilização popular, no mínimo.

DENÚNCIA: Médicos privados e do SUS estão receitando ivermectina e azitromicina para COVID-19!

Uma pessoa da minha família pegou COVID-19 e a médica do SUS (!) receitou ivermectina (que o sacripanta Jair Bolsonaro, reforçando seus crimes de responsabilidade, voltou a defender hoje junto ao medicamento Annita, mas que só mata piolho e lombriga) e azitromicina (antibiótico também sem comprovação científica, conforme vários estudos demonstraram), além de outros remédios menos absurdos contra os sintomas (prednisona, novalgina, vitaminas D3 e C), ou seja, como se fosse um “kit”!

Enquanto o resto do planeta Terra (que não é plana) começa a se vacinar!

Ao escrever este relato, recebo de contatos outros relatos contando que médicos da rede privada também estão receitando tais medicamentos.

Um colega – do Direito, não da Medicina – me diz que a azitromicina, conforme mostra a bula, pode servir para complicações respiratórias, já que o sintoma mais fatal da COVID-19 é a falta de ar… Mas isso não retira o que dizem os estudos internacionais e não responde aos meus questionamentos, que escreverei no final. E o pior e tão preocupante quanto: o uso desenfreado de antibióticos durante essa pandemia pode levar a “apagão” contra bactérias resistentes, conforme pesquisadores e médicos têm alertado.

Leio que um ou outro prefeito direitista também incentiva tais “kits” – ao invés de fazerem como prefeitos e governadores mais sensatos, que correm atrás da vacinação.

Não nos interessa se esses médicos votaram 17 nas urnas em 2018, não nos interessa se não passam de sicofantas – nos interessa a Ciência, ou é caso para serem impedidos de exercer a função! Será que essa médica faz parte do “grupo” de “tratamento precoce contra COVID-19”, que se julga apto e “independente” a receitar insanidades, mesmo quando sob riscos de efeitos colaterais?! Sem consenso nenhum com a comunidade médica, epidemológica e científica?! A troco de que?! Simplesmente não existe ainda qualquer “tratamento precoce” para COVID-19, a doença do novo coronavírus. Os usuários não estão nem mesmo sendo “cobaias” (e nem poderiam), porque, conforme escrevi acima, estudos com tais medicamentos já foram realizados e divulgados.

Um receituário é a via final, é o resultado de um longo processo que envolve estudos científicos e imunológicos de outros profissionais gabaritados! E tais estudos têm sido amplamente divulgados.

Aos médicos e profissionais da Saúde que me acompanham, se manifestem! Ninguém faz nada?! Fica por isso mesmo?! O que está por trás?

Por que essa defesa insistente de um governo que não está nem aí para a pandemia e para os óbitos diários (antes, renitente em relação à ineficaz hidroxicloroquina, como se Bolsonaro fosse um garoto-propaganda do lucro farmacêutico escuso e do negacionismo), um governo que destruiu o ministério da Saúde e nossa expertise em vacinação?!

Por que o alinhamento de certos médicos com essa defesa renitente?! A troco de que?!

É uma quadrilha de corrupção em conluio com laboratórios? Essa gente não é “maluca” de graça, e fanatismo que atropela ciência e anos de estudo – e até reputação! – só pode ter interesses! Quais?! Como?!

E a conivência mafiosa do Conselho Federal de Medicina e do Conselho Regional de Medicina?! A troco de quais interesses?!

Quer dizer que a “categoria médica”, ostentando seus privilégios (a Medicina, no Brasil, é curso elitista de classe média, e as exceções confirmam a regra), só esbraveja quando é para ser contra os médicos cubanos – que vieram suprir a falta dos médicos brasileiros, que não vão à periferia e aos rincões do país? Ruy Castro escreveu que tal categoria e suas organizações, diante da pandemia e da incompetência, deveriam já ter feito algo para impedir e até derrubar (juntar-se aos mais de 50 pedidos de impeachment, por exemplo) o sujeito que ocupa a Presidência, uma vez que ninguém melhor do que os próprios médicos para julgarem o seu papel neste momento de crise sanitária.

O que realmente está acontecendo?

Ps.: Notícia de ontem – Morre aos 36 anos pastor “bolsonarista” que defendia cloroquina e ivermectina. São várias as notícias de casos assim…

Ps. 2: Infectologias reforçam posição contra tratamento precoce da COVID-19.

Assisti ‘Amarcord’, de Fellini: impossível não associar fascismo ao Brasil com Bolsonaro

Eu, que me emocionei certa vez no CineSesc da Rua Augusta ao assistir A Estrada (1954, filme que comprova que é possível entrar na estética e sair na ética), que já chorei umas três vezes assistindo (1963, um dos meus filmes preferidos, às vezes o preferido junto ao Nosferatu de Murnau, de 1922), que me arrepio todo sempre que revejo o final sobre a incomunicabilidade de A Doce Vida (1960) com aquele sorriso da jovem em fade out, mais enigmático do que o da Monalisa, assisti, ontem, Amarcord (1973) pela primeira vez. (Obs.: Mais uma vez, a certeza – já enunciada por Tarkóvski em Esculpir o Tempo – de que nenhum outro compositor senão Nino Rota consegue compor uma música que contenha alegria, fanfarronice, melancolia, tristeza num mesmo tema, tal como pede todo Fellini, cujo olhar cinematográfico passeia sempre com amorosidade e sem julgamento pelos mais variados tipos humanos…)

No antológico e semiautobiográfico filme Amarcord, Federico Fellini retrata como o fascismo de Mussolini (subversivismo reacionário, para usar a expressão do grande Gramsci, preso pelos fascistas), que durou mais de 20 anos (de 1922 até o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945), junto à Igreja Católica, aprisionou os italianos numa perpétua adolescência. Em todo filme sobre Hitler ou Mussolini, há uma multidão de fanáticos, desprezíveis em sua ingenuidade ou proposital crueldade, enquanto outra multidão era perseguida, presa, assassinada; a imposição hipócrita da ordem de cima abaixo, enquanto os soldados não passam de beberrões irresponsáveis; um desejo sexual infantil a praticamente cada cena, reprimido e comum nas épocas de fundamentalismo, repressão, ordem. Destaque para uma faixa que diz “Deus, Pátria e Família” durante parada militar fascista, insígnias ultrapassadas e retrógradas que foram usadas na eleição de 2018 no Brasil. Destaque para a fumaça que permeia a cidade sob domínio fascista. Destaque para a bela cena em que alguém da resistência toca a Internacional Comunista, contra os fascistas.

Guardadas as enormes proporções e diferenças (o nazifascismo foi derrotado militarmente, mas ainda não totalmente ideologicamente), é mais ou menos o que vemos no Brasil com o sacripanta Jair Bolsonaro hoje (até quando?) e as Igrejas Evangelofascistóides: um certo infantilismo aborrecente, que pulula desde o linguajar chulo (discussões políticas com expressões infantilóides do nosso tempo de ensino médio e fundamental) até a irresponsabilidade social (com ou sem pandemia, mas sobretudo durante a pandemia). A esquerda sempre avisamos que não seria de outra forma.

O problema é que a sociopatia criminosa do DESgoverno já perdeu a graça e, antes que coisas piores aconteçam (sempre é possível piorar), resta acabar com a palhaçada mortífera ainda este ano, não importando se ele vai vender a própria mãe que o pariu, além de cargos e emendas, ao Centrão para safar a si e seus filhos delinquentes. Que os próximos adversários da classe trabalhadora venham, e vamos enfrentá-los! Nada de eleitorismo, nada de aludir a 2022, assumindo que o traste possa terminar seu mandato. Não pode. Fuzilamento, exposição do corpo em praça pública – não, calma, só estou me referindo ao final do Mussolini; basta seguir o rito da democracia burguesa falida e farsante, abrir um dos mais de 50 pedidos de impeachment ou interdição (desde que isso não o torne inimputável), embora a cassação da chapa Bolsonaro/Mourão tenha também fartas provas e motivos.

Ps.:

https://revistaforum.com.br/politica/bolsonaro-volta-a-imitar-mussolini-ao-nadar-em-praia-lotada-entre-seguidores/

(Enquanto o Brasil, que tinha expertise em vacinação e agora queda perdido sob a incompetência, conta mais de 200 mil mortos de COVID-19… Faltou, na matéria acima, apenas revelar que não são bem “seguidores”, ao menos não em termos de “apoio popular”, como ele pretende fingir, e sim PMs e seguranças devidamente posicionados na “cena”, aguardando ele chegar para a armação, conforme uma moradora de Praia Grande contou. O “marketing” serve para mentir “apoio popular” e se fazer de “humilde”, mesmo gastando milhões de horrores no cartão corporativo. Espanta que nem a mídia hegemônica nem figuras políticas desmascarem isso em rede nacional, tal como a “fakeada” e suas enormes incongruências mereciam melhores esclarecimentos.)

“‘Mussolini é o arquétipo de líderes populistas como Bolsonaro, Trump e Salvini’, diz autor italiano” (BBC Brasil, 06 de setembro de 2010).

“Bolsonaro posta frase de Mussolini” (1/06/2020) – que Trump também já havia compartilhado antes. Tanto no rosto/semblante quanto no comportamento “esquentado”, Bolsonaro é também quase uma cópia arremendada de Hitler, ainda que lhe falta qualquer elaboração política como a que havia, em nível baixíssimo, em Mussolini (a cara do Onyx Lorenzoni) e Hitler.

Colagem retirada da Internet – Mussolini e Hitler, Lorenzoni e Bolsonaro.
Esta colagem fui eu quem fiz em abril de 2019. Acima, o ex-cabo Adolf Hitler dá as mãos e se curva perante o General Paul von Hindenburg, presidente da República de Weimer que, por senilidade, pressão ou conivência, o nomeará como chanceler em janeiro de 1933. Abaixo, os avatares brasileiros, o ex-capitão expulso Bolsonaro e o general Hamilton Mourão, seu vice, ambos miscigenados de ideias mais ou menos nazifascistóides. Papéis trocados.

Abaixo, Amarcord em péssima qualidade visual, mas facilmente acessível para quem quiser assistir sem ter de baixar:

Jair Bolsonaro não pode disputar as eleições de 2022

Como podem associar Bolsonaro a 2022?! Tenho lido algumas dezenas de comentários, no rastro da eleição dos EUA que retirou o mafioso Donald Trump (que não aceita sair), associando Jair Bolsonaro à hipotética eleição presidencial de 2022 no Brasil. Para mim, é sintoma de esquerda que padece de fraqueza, depois de tanto traumas, em eterna “resistência” aos descalabros da direitalha e sem colocar as suas cartas na mesa, sem mobilização, e de cúpulas eleitoreiras! Bolsonaro não merece e não pode disputar mais eleições nem completar mandato, tem de ser derrotado já ano que vem. Esta deve ser a agenda da esquerda, considerando seus pontos fracos:
 
1) Ele não consegue emplacar nenhum candidato nestas eleições municipais de 2020, ao contrário, derreteram ou nem decolaram e tiraram ele da campanha, porque é tóxico. Povo não é bobo, não quer replicar o desleixo federal criminoso no âmbito municipal, sobretudo o desleixo na Saúde em momento de pandemia.
 
2) Sem Trump, para quem não passava de capacho, Bolsonaro se consolida como um zumbi internacional. Quem será aliado de seu obscurantismo diplomático terraplanista?
 
3) Seu filho mais velho está encurralado pela justiça. Queiroz era amigão do pai quando Flávio Bolsonaro nem tinha nascido, ou seja, está metido junto… É muita bandidagem. Além de peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa, há a sórdida relação dessa família inteira – família estranhíssima – com milicianos assassinos do RJ, alguns deles diretamente envolvidos no assassinato de Marielle… Vai chegar em Bolsonaro ou tem de chegar, ou pelo menos o mancha.
 
4) Ademais, é um desgoverno ruim, fraco, incompetente e absurdo, que não fez nada que preste e nem vai fazer. Sem auxílio emergencial, a rejeição aumenta. Os sinistros Guedes e Salles sempre por um fio… Mais de 50 pedidos de impeachment na mesa de um liberal meio conservador Rodrigo Maia (crítico do desgoverno, porém amigo das contrarreformas), processo de cassação da chapa a ser discutido no TSE (uma via melhor do que o impeachment, porque Mourão, embora aparentemente mais maleável, é grau 33 da Maçonaria, apesar da cassação poder levar à eleição indireta)… É verdade que a esquerda não pode virar “gado” do judiciário burguês (a importância de Pachukanis), mas estes são elementos que complementam o jogo conjuntural de forças a respeito de um projeto de país e outro rumo.

Não há “bolsonarismo”…

Não há “bolsonarismo”, porque não há nem mesmo elaboração intelectual e política dessa direitalha de chinelos.

Há gozo da desistência; triunfo da incapacidade; niilismo e falta de perspectiva política que revivem os resquícios ideológicos do nazifascismo; espoliados abandonados, desviados das verdadeiras urgências revolucionárias e político-econômicas e iludidos pelo evangelofascismo teocrático dos saqueadores de dízimo e fé alheia; moralismo farsante anticorrupção da mídia e da classe média, que respinga em incautos da classe trabalhadora, e que nada diz sobre a corrupção que é a mais-valia e o capital (para não dizer, agora, de familícia e centrão); preconceitos de todos os tipos que só servem para inferiorizar sujeitos da mesma classe; doutrina do “foda-se, mesmo que eu me foda junto” (essa pega todas as classes, mas sobretudo as mais abastadas), não sem táticas financiadas e importadas da extrema-direitalha negacionista internacional a fim de distrair dos crimes neoliberais, antissociais dos capitalistas.

12 de julho de 2020

Aristóteles “explica” Bolsonaro: a comédia e a tragédia

Maquiavel – sempre muito bem vendido, sobretudo em momentos mundiais como esse pelo qual passamos – ensinou, em O Príncipe, que cabe a um príncipe (hoje em dia, chefe de Estado ou governante em geral) ser temido e amado. O ideal, afirma, é ser ambos, mas, entre um ou outro, melhor ser temido.

Bolsonaro é ambas as coisas: amado por uma tribo muito reduzida que irá se extinguir (tal como os colloridos e os “aécistas”, e quem sabe até seu PSL não passe de um fenômeno eleitoreiro, passageiro, como o extinto PRN, Partido da Reconstrução Nacional, do Fernando Collor), mais ou menos “amado” por milhares de eleitores iludidos em lua-de-mel, que, já antes da posse, está por um fio, e temido até mesmo por um ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (o que seria de nós, então, reles semi-cidadãos?!), que, em seu Twitter durante o segundo turno, declarou que, “pela primeira vez em 32 anos de exercício do direito de voto, um candidato me inspira medo”, declarando voto em Fernando Haddad. Temido menos por si só, pois é um bobo da corte que presta continência para qualquer um, temido mais pelas mexidas extremas na economia, que assombram a maior parte de nós, de classe média para baixo, e pelo aparato repressivo do Estado, já que tanto elogiou a ditadura e se cerca de militares, e do que pode vir com ele e sem ele, se levar um pé na bunda de Mourão e cia. (Indiscutivelmente, convenhamos, não é amado como um Lula: o único líder capaz de encher tanto a Avenida Paulista quanto o Nordeste, amado como líder sindical, depois como presidente, depois como ex-presidente, amado nos momentos mais crepusculares e mais solares de sua trajetória, o único amado tanto por intelectuais dos quilates de um Antonio Candido e de um Noam Chomsky como pelo povão, o único que, mesmo da cadeia, despontava em primeiro lugar nas intenções de voto com SESSENTA POR CENTO! Lula, aliás, sempre foi temido apenas por irracionais e anticomunistas direitofrênicos, até por setores da elite e por adversários direitistas, não pelo povo – que o enxergava ou o enxerga como orgânico -, e agora é temido por eles pelo seu retorno e libertação à lá Mandela.)

Mas há uma terceira fileira de pessoas que sabem que o ex-capitão, ainda que pilantra e politiqueiro, é um paspalho, que seu desgoverno já é um fracasso econômico, político e social, por causa das escolhas, das declarações, das brigas internas e externas e da plataforma de governo (quem fala em “torcer” desconhece a plataforma, acha normal não ter havido debate no segundo turno), o que nos leva também a Aristóteles, cuja Poética, ainda que tenha nos chegado incompleta, ensinou bem a diferença dos conceitos filosóficos/literários entre a tragédia e a comédia.

A tragédia é a história de um homem tão cumulado de virtudes e qualidades que prefere morrer a viver sem honra. Mesmo com a segunda parte da Arte Poética perdida, justamente aquela que conceituava a comédia (fato histórico, um dos grandes mistérios da antiguidade clássica que deu brecha para aquele famoso romance best-seller do Umberto Eco), Aristóteles nos adiantou, no finalzinho da parte sobre a tragédia, que a comédia seria exatamente o oposto daquela: a história dos homens não-virtuosos e cheios de defeitos.

Foi assim com a tragédia de Édipo. É assim com a comédia de Bolsonaro, ao contrário.

Édipo ouve de um adivinho que há uma peste sobre Tebas, que as pessoas estão morrendo, porque alguém cometeu um crime, alguém matou o próprio pai e se casou com a própria mãe. Não sei quantos anos antes do moralismo cristão, esses temas já eram chocantes para os gregos e pagãos.

Desesperado, Édipo, o rei, ordena que procurem este homem imediatamente e até às últimas consequências.

Triste ironia! Todos vocês devem conhecer o desfecho… À medida que avança na busca, aproxima-se de si mesmo: o menino abandonado num pântano é ele, ele foi o assassino do próprio pai, sem saber, e a sua esposa é justamente a sua própria mãe.

Catarse! Terminado a busca que descamba em si mesmo, dá o golpe final: numa das cenas mais marcantes e arrepiantes de todo o Teatro, fura os próprios olhos, prefere morrer a viver sem honra: é um trágico por excelência.

A tragédia de Hamlet também é assim: o jovem honrado, rodeado da gente baixa e corrupta de Elsinore, que morre justamente quando começa a praticar as mesmas vilanias dos vilões, em sua sanha por vingança pelo assassinato do pai.

Se, no entanto, Édipo tivesse feito o contrário disso, terminado a investigação quando ela chega em si, ou mandado buscarem em outro lugar qualquer, ou dito que não houvera assassinato algum, que não é por isso que as pessoas estão morrendo de peste, se mentisse, estaria livre e, na concepção aristotélica, podemos dizer que seria um cômico.

No Hamlet, o tio usurpador e réprobo é o não-virtuoso e “cômico”, em tons de farsa. Assim foi muitas vezes representado no teatro e no cinema, como um sacana que não vale nada, sem escrúpulos, e mesmo Shakespeare o pinta como um beberrão, luxurioso. O príncipe Hamlet, que durante a peça vai mudando seu espírito em luto, primeiramente melancólico, para momentos de puro escárnio e fina ironia (ácida), se dissesse que o fantasma do pai está errado, que aquele nem era o fantasma do pai, que não vai procurar vingança coisa nenhuma, que o tio não é corrupto nem assassino nem ilegítimo, que a sua mãe não é adúltera, incestuosa nem conivente, que não quer o trono que é seu de direito, que Elsinore é um paraíso, que não, não há nada de podre no reino da Dinamarca, seria cômico, mas, por saber que tudo isso é verdade – uma verdade atroz que se sobrepõe aos seus princípios éticos mais nobres -, é trágico por excelência…

E Bolsonaro? Todos seus assessores ou ministros ou aliados são ou corruptos ou incompetentes ou destruidores de vários setores do Brasil: politiqueiros, malucos, aloprados, espertalhões, ruralistas, latifundiários, fundamentalistas, neoliberais, extremistas, fisiologistas do mais do mesmo, gente sem experiência na administração pública da alta burocracia federal etc. etc. etc. Na frente disso, ele próprio, parlamentar infecundo há 30 anos, encabeçando a trupe, como um pau-mandado. Sem falar nos filhos, que criou feito crápulas inconsequentes…

O que ele faz, entre a escolha da tragédia e da comédia?

Se ele eliminasse o confesso Onyx e todos os outros quatro ou cinco ministros investigados por corrupção, se não seguisse o charlatão descolarizado e folclórico Olavo de Carvalho, se recusasse seu “chanceler” absurdo e seu ministro colombiano da deseducação, se não aceitasse Moro para o “super” Ministério da Justiça, pois este é oportunista e não nasceu para ser coadjuvante, é capaz de vários abusos de poder, se soubesse que o ultraneoliberalismo de Paulo Guedes, o “super” ministro da economia terraplanista (repetindo o erro que Collor fez com a Zélia Cardoso), vai provocar um arrasa-quarteirão nos serviços públicos do Brasil e quebrar o país, se dissesse que não quer que o Brasil torne-se uma terra arrasada, se trocasse o Levy, porque, realmente, já tinha sido um erro a Dilma colocá-lo lá, se, de repente, dissesse que não, que o armamentismo e o Estado policialesco não vão resolver a violência, nunca resolveram, que o grosso da violência tem que ser combatida com a socialização dos meios de produção e transformação urbana e fim da pobreza e da desigualdade socioeconômica (como bem apontou o Atlas da Violência), se desmentisse a si mesmo, dizendo que não, que os índios não querem ser como nós, que eles têm pleno direito à sua própria terra e seu cultivo, que os ruralistas devem ser sustentáveis, ao invés de quererem lucro passando por cima de quilombos, áreas de preservação, demarcações indígenas e do próprio meio ambiente, que as mudanças climáticas são questões fundamentais, hoje, para não sermos um pária, que a educação deve ser democrática e plural e crítica, não só técnica, tampouco cívico-militar, que o imperialismo americano não deve ditar o rumo do Brasil (deixando de ser, portanto, um patriota de araque), que é preciso tirar dos bancos e dar para os previdenciários, se passasse para o lado da enorme massa que está na informalidade e abandonasse os interesses escravagistas dos megaempresários, se dissesse que o povo brasileiro merece uma revolução tributária e bancária ao invés de menos direitos sociais e trabalhistas, se contrariasse o mercado e a elite financeira nacional e internacional em favor de todos nós, se soubesse que seu extremismo direitista e seu ultraneoliberalismo não dão certo e terão de ser resolvidos pela social-democracia, se, de repente, contra tudo e contra todos, tentasse, pelo menos, não digo nem uma revolução socialista, mas um Estado de bem estar social, seria um trágico, mas colocaria seu nome na História do Brasil, não na linhagem que ficará, a do doido Jânio Quadros, nos anos de 1960, e do desastroso Fernando Collor, no início dos 1990.

Faria, aliás, como o ditador hitlerista do Chaplin, que, no final, diz o famoso, emocionante e genial discurso humanista que subverte todo seu comportamento durante todo o filme. Acho que Chaplin quis, mesmo, usar essa dicotomia em Aristóteles da forma como aqui coloco, ou terá sido inconscientemente?

O que Bolsonaro prefere fazer? Nada disso. Vai na contramão disso tudo. Permanece vicioso, dizendo o oposto do que é óbvio, seguindo em frente, como um serviçal cego a isso tudo, achando que está tudo mais ou menos perfeito, que ele e os seus vão salvar a nação com esta plataforma de desgoverno.

Um cômico caminhando para a sua tragédia, capaz de ter dito, dias atrás, que, se afundar, o Brasil iria junto com ele. Ele mesmo já sabe do fracasso.

Portanto, não há possibilidade de se escrever ou falar sobre Bolsonaro a não ser de maneira cômica, ainda que traga muitas tragédias econômicas (nada cômicas), sociAIS! e políticas … a serem resolvidas por nós, pelo povo brasileiro, movimentos sociais e estudantis, partidos de esquerda e oposição na Câmara e no Senado, cada um de nós ou – ai de nós, ai do Brasil! – pelo FMI, Banco Mundial e o Federal Reserve…

5 de dezembro de 2018